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Quinta, 21 Março 2019 11:33

O “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO” E O ARMAMENTISMO: UMA MISTURA EXPLOSIVA.

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Publicamos aqui no site o artigo de Leonardo Ramos, Bacharel em Segurança Pública pela UFF, intitulado: O “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO” E O ARMAMENTISMO: UMA MISTURA EXPLOSIVA.

“Nos Estados Unidos todo o indivíduo pode ter uma arma para se defender”. “Se no Brasil as pessoas tivessem acesso às armas, a criminalidade iria diminuir, já que o bandido iria pensar duas vezes antes de roubar o cidadão de bem”. Estas são afirmações que rotineiramente se ouve para justificar a política pública de acesso às armas de fogo no Brasil. Contudo, usar como parâmetro o modelo social estadunidense para argumentar razões a favor da política armamentista no Brasil me parece desarrazoado. E isto, porque, antropologicamente falamos de duas culturas distintas.
Em países de longa tradição liberal (a exemplo os de língua inglesa), onde os valores burgueses de liberdade, igualdade e individualidade foram a bússola da formação societária, os indivíduos se veem como iguais e, portanto, os conflitos nestes locais têm seus polos equilibrados. Nestes sistemas, embora o mercado trace caminhos distintos entre os indivíduos, há uma consciência recíproca de que todos são iguais perante a lei. Portanto, quebrar esta lógica é um ultraje moral.
Já no Brasil - um país que recentemente saiu de uma monarquia - os valores que orientam as relações sociais são opostos ao anterior. Enquanto nos Estados Unidos, segundo os antropólogos Roberto Damatta e Roberto Kant de Lima, o núcleo social é o “indivíduo”, aqui este núcleo é a “pessoa”. Desta forma, entre os norte americanos não é cultural se evocar o argumento da autoridade para resolver problemas, mas, sim, a autoridade do argumento. Não interessa, portanto, quem está certo ou errado, e sim porque o está.
Neste diapasão, Damatta sinaliza que nossa sociedade tem como unidade social principal a “pessoa”: alguém que não se relaciona com o outro numa lógica igualitária, mas revestida do apadrinhamento, do conchavo, da posição, se valendo do estrato social em que se localiza. Desta forma, diante do conflito, os polos se desigualam no “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?”.
Por fim, trilhamos todo este raciocínio para chegarmos a uma pergunta: enquanto o mecanismo que nós utilizamos para “colocar cada um no seu lugar” – seja durante uma discussão de trânsito, seja um desentendimento numa abordagem policial – for simplesmente uma “carteirada”, os oponentes se ajustam aos seus lugares e tá tudo certo.... Mas, quando cada um de nós, no “você sabe com quem está falando”, sacarmos do três oitão cromado de 6 polegadas, a coisa pode tomar outros rumos. Isto será ou não uma mistura explosiva?

Por: Leonardo Ramos
Bacharel em Segurança Pública pela UFF

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