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Falar, ouvir, escutar e responder

Escrito por  Luciane Patrício

O texto que vão ler é fruto do trabalho de doutorado da autora no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense. A autora desenvolveu importante etnografia de Conselhos Comunitários de Segurança do Rio de Janeiro, tendo chegado a conclusões surpreendentes. Como se sabe, a questão da participação popular na administração dos serviços públicos sempre foi, em nossa tradição luso-brasileira, um problema. Em contraste com as fortes representações comunitárias dos serviços públicos anglo-saxões, as representações e as práticas públicas, em nossa tradição, são sempre de um ente estatal, que se sobrepõe e, mesmo, tutela a sociedade. Assim, os serviços públicos sempre nos aparecem, na prática, não como serviços para satisfazer as demandas de determinados segmentos sociais, ou mesmo de sua totalidade, em determinados locais, mas como concessões de um poder público, verdadeiras benesses a serem conquistadas por aqueles que necessitam deles. Desta forma, sua distribuição e seu desempenho desiguais na malha urbana, seja em termos de locais, seja em termos de segmentos sociais a serem atendidos, é naturalizada. Serviços policiais, entre os muitos serviços públicos demandados, são explicitamente desigualados, seja nas favelas e no asfalto, seja na Zona Sul ou na Zona Oeste da cidade do Rio de janeiro e, ainda mais que isso, não são vistos sempre como meros “serviços”, propriamente ditos, mas muitas vezes como poderes a serem exercidos arbitrariamente sobre os segmentos da população. A etnografia, entre outras coisas, demonstrou que havia uma dinâmica própria a esses encontros, cujo maior relevo era dado à circunstância de colocarem frente à frente as “autoridades” e os membros da população que acorriam à reunião. Nessas ocasiões, demandas de serviços eram explicitadas pela população presente e ouvidas pelas autoridades.

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  • Autor(es): Luciane Patrício