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Claúdio Salles

Claúdio Salles

V Semana Acadêmica de Segurança Pública da UFF "Administração de Conflitos, Estado e Democracia" ocorrerá nos dias 03 à 06 de dezembro na Universidade Federal Fluminense, com a seguinte programação:

03/12 Segunda-feira 
15h - Oficina de Escrita Científica: Escreva por Direitos
18h - Lançamento do Livro: 
O Senador e o Bispo - Pedro Heitor Barros Geraldo
18h30 - Mesa de Abertura "Administração de Conflitos, Estado e Democracia: 30 Anos de Constituição Brasileira e 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos"
Local: Auditório da Odontologia (Valonguinho/UFF)

04/12 Terça-feira
15h - Curso de Extensão: Gênero e Segurança Pública
18h - Lançamento dos Livros: 
Lacan para Historiadores - Danieli Machado Bezerra
Linhas de Investigação - Flávia Medeiros Santos
18h30 - Mesa "Diversidade e Segurança Pública: O Papel do Estado em Garantir Políticas Públicas de Inclusão, Integração e Igualdade"
Local: Auditório da Odontologia

05/12 Quarta-feira
15h - Curso de Extensão: Gênero e Segurança Pública
18h - Lançamento dos Livros: 
Dogmas e Doutrinas - Izabel Saenger Nuñez
Maconheiros, Fumons e Growers - Marcos Veríssimo
18h30 - Mesa "Os Bastidores da Segurança Pública e da Justiça: Administrando Conflitos Institucionalmente"
Local: Auditório da Odontologia

06/12 Quinta-feira
15h - Pedalada Inaugural do Projeto BicInEAC (Saída do InEAC)
18h - Lançamento Oficial do BicInEAC
19h - Roda de Conversa "Masculinidades no Cárcere"
Lançamento do Livro: Além das Grades - Samuel Lourenço Filho
Local: InEAC

 

O PPGA/UFF realiza,  no próximo dia 23 de novembro de 2018,  a 5ª edição do “Conversas Antropofágicas” com o tema: Rodas Culturais no Rio de Janeiro: uma batalha chamada resistência.

A mesa será composta por Rico Neurótico (MC e produtor cultural da Roda de Olaria), Felipe Gaspary (produtor cultural da Roda do Tanque), Priscila Telles (Mestre em Antropologia – PPGA/UFF) e Marcos Veríssimo (Doutor em Antropologia – PPGA/UFF).

O evento acontecerá no dia 23 de novembro de 2018, às 18:30h, na sala 231, Bloco P, ICHF, Gragoatá, UFF

Nesse sábado, 17 de novembro de 2018, de 19:30 a 20:30, na Feira do Livro de Porto Alegre, acontece o lançamento do livro "Formas Não Violentas de Administração de Conflitos" organizado por Kátia Sento Sé Mello, Bárbara Lupetti Baptista e Klever Filpo e que conta com a colaboração de vários interlocutores de diferentes PPGs no Brasil e na Argentina
A publicação apresenta trabalhos que, desde uma perspectiva empírica e comparada, tensionam, problematizam e apresentem reflexões acerca de temas relacionados com a mediação de conflitos, a Justiça Restaurativa, a Mediação Penal e a administração de conflitos nos Juizados Especiais Criminais.
O livro apresenta pesquisas de caráter empírico e interdisciplinar, envolvendo projetos distintos, albergados em programas de pós-graduação stricto sensu do Brasil e da Argentina, nas áreas das Ciências Sociais e do Direito, permitindo uma articulação bastante inovadora e interessante sobre o papel de pesquisas de caráter etnográfico na compreensão de fenômenos jurídicos.
O livro foi integralmente apoiado pela CAPES no âmbito do PPGSS-ESS/UFRJ e também apresenta um profícuo diálogo, que vem sendo amplificado no contexto do INCT-InEAC, aprovado, inicialmente, em abril de 2009, na Chamada nº 15/2008 MCT/CNPq/FNDCT/CAPES/FAPEMIG/FAPERJ/FAPESP/, e mantido sob nova aprovação, na Chamada nº 16/2014 INCT/MCT/CNPq/CAPES/FAPs, do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia/CNPq, que é resultado da articulação de uma rede nacional e internacional de instituições de ensino, pesquisa e extensão. 
Os artigos = são fruto desse trabalho de interlocução, entre as ciências sociais e as ciências sociais aplicadas, especialmente entre a Antropologia, a Sociologia e o Direito.
Destaca-se, ainda, que este livro, como produto deste projeto, se funda em uma perspectiva comparada e multidisciplinar de análise, que pretende compreender como se articulam, em distintos contextos jurídico e social, diferenciadas formas de administração de conflitos, no Brasil e na Argentina.

ATENCÃO: Livros à disposição na Editora/Livraria Palmarinca

Feira do Livro de Porto Alegre
Praça Da Alfandega, 90010-150 Porto Alegre, Rio Grande do Sul
 

Terça, 13 Novembro 2018 11:02

"Ética em pesquisa na área de humanas"

A graduação Pós graduaçao em antropologia da UFF realizam, no próximo dia 22 de novembro de 2018, o evento "Ética em pesquisa na área de humanas" . 

O Comitê de Ética na Pesquisa em Ciências Sociais, Sociais Aplicadas, Humanas, Letras, Artes e Linguística (CEP-Humanas UFF) é resultado dos diagnósticos realizados nas últimas décadas por especialistas das áreas de conhecimento das disciplinas abrigadas sob a rubrica de Humanidade que apontam às especificidades existentes quanto às práticas e éticas no domínio das distintas Ciências, sobretudo considerando a necessária distinção entre o exercício da pesquisa “com” seres humanos e aquelas realizadas “em” seres humanos. Comporão a mesa Helen Jennisy Vieira Bernal (UERJ FFP) , Fábio Reis Motta (INCT-InEAC UFF) e Hulli Guedes Falcão ( doutoranda PPGA-UFF) .

A atividade acontece no próximo dia 22 de novembro de 2018, às 14 horas, na sala 528,  bloco "P" do Campus do Gagoatá da UFF, em Niterói - RJ. 

Site: http://cephumanas.sites.uff.br/

 

Pesquisadores do INCT-InEAC participam, em Aracaju - SE, do "II Seminário Doutrinas, Praticas e Saberes Locais", que acontece entre 12 e 22 de novembro de 2018 , na UNIT - Universidade Tiradentes.    Representando o INEAC no evento estão o coordenador do INCT Roberto Kant de Lima (UFF/UVA), o antropólogo Felipe Berocan Veiga (UFF) as também antropólogas Ana Paula Mendes de Miranda (UFF) e Roberta Correa (UFF), além da historiadora  Ana Lage (UFF).

Confira no cartaz abaixo toda a programação do "II Seminário Doutrinas, Praticas e Saberes Locais".

 

Acontece nos próximos dias 12 e 13 de novembro de 2018 a Conferência "O Papel da Universidade na luta contra o racismo e defesa das políticas afirmativas",  com a participação do antropólogo  KABENGELE MUNANGA. A atividade acontecerá em comemoração ao mês da Consciência Negra.

Kabengele Munanga é um antropólogo e professor brasileiro-congolês. É especialista em antropologia da população afro-brasileira, atentando-se a questão do racismo na sociedade brasileira. Kabengele é graduado pela Université Oficielle du Congo e doutor em Antropologia pela Universidade de São Paulo.

A atividade acontecerá no dia 12/11 na UFF e no dia 13/11 na UNIRIO. O INCT InEAC está entre os organizadores do evento. Veja no cartaz abaixo mais detalhes da Conferência.

 

O nosso site publica aqui o discurso do Coordenador do INCT InEAC, antropólogo Roberto Kant de Lima, durante o prêmio de excelência acadêmica da UFF, outorgado pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF, em cerimônia que aconteceu no auditório do NAB, no Campus da Praia Vermelha da UFF,  nessa terça-feira,  6 de novembro, de 2018. O discurso pode ser assistido no nosso canal do Youtube, na minutagem 1h 38min 50s,  acessando o link https://www.youtube.com/watch?v=Zd_2i1iIHD4 

 

DISCURSO PREMIAÇÃO DE EXCELÊNCIA ACADÊMICA DA UFF

Roberto Kant de Lima

 

Inicialmente, quero agradecer aos colegas que indicaram o meu nome e à banca que me escolheu para esta altamente prestigiosa premiação da UFF, criada, diga-se de passagem, na gestão do Professor Antônio Cláudio, na PROPPI.

Queria ser breve (15 minutos no máximo), então através de agradecimentos sucessivos, vou enfatizar a circunstância de que qualquer um que ganhe uma premiação, ou uma homenagem, não lhe faz jus por si só. A meu ver, não há heróis, nem super-homens nessa linha de trabalho.

Estes agradecimentos, para facilitar, serão efetuados em ordem cronológica e não poderiam abranger a todos, mas àqueles a quem infelizmente não cito, peço que se sintam também contemplados no contexto das citações.

Em 1970, insatisfeito com minhas atividades profissionais à época, após ter-me formado em Direito e já trabalhando no mercado de capitais, por intermédio de minha então namorada Magali Alonso, fui apresentado ao livreiro Aníbal Bragança, da Livraria Diálogo e ali iniciei meus contatos profissionais com Niterói. Em conversas com os clientes da livraria, que ficava próxima ao antigo ICHF (hoje IACS), interessei-me pelas Ciências Sociais.

Ingressei como aluno no ICHF em 1971 e, guiado pelo Professor Wagner Neves Rocha, fui fascinado pela ética includente e pelo relativismo das perspectivas teóricas  do método comparativo e decidi  tornar-me antropólogo. Ainda sem finalizar o curso, ingressei em 1974 no então único curso de mestrado do RJ no Museu Nacional/UFRJ, onde escolhi como orientador o Professor Roberto Da Matta. No entanto, a forte personalidade e as excelentes aulas do Professor Castro Faria, que já haviam me encantado na graduação, foram sempre fundamentais para minha formação.

Neste mesmo ano, 1974, fui aprovado na seleção para Auxiliar de Ensino do Departamento de Ciências Sociais – ao mesmo tempo que concluía minha dissertação de mestrado sobre os pescadores da Praia de Itaipu, em Niterói, com a indispensável e prestimosa colaboração de meu amigo e até hoje colega Marco Antônio da Silva Mello  .

Esse período foi bastante difícil, pois o Depto sofreu uma intervenção de uma representante do SNI – diga-se de passagem, equivocadamente eleita -  e minguou de 33 professores para 11 docentes efetivos, contratando-se colaboradores provisórios para dar aulas. Comparativamente aos tempos de hoje a Universidade era bastante deficitária em termos de recursos físicos (desde banheiros e salas de aula) e quase nula em termos de recursos para ensino e pesquisa, mas nem por isso nos desanimávamos, criando sempre oportunidades de pesquisa e extensão para financiar nossos projetos.

Em seguida, em 1979 fui para os Estados Unidos, onde, recomendado por Roberto Da Matta, fui acolhido, como vários outros brasileiros, pelo Professor David Maybury-Lewis no Departamento de Antropologia de Harvard),  com uma bolsa do Programa Institucional de Capacitação Docente (PICD da CAPES), concebido para as instituições de ensino “periféricas”, nas quais, à época, a UFF se incluía (e a UFRJ, por exemplo, não).  Mas isso só foi possível por intervenção da Professore Aydil de Carvalho Preiss, Vice-Reitora e do Professor Hildiberto Cavalcanti de Albuquerque Jr., Diretor do ICHF, que se responsabilizaram pela minha saída do país perante os órgãos de segurança, depois de uma recusa da CAPES em me conceder a bolsa.

Em Harvard, conheci e me tornei amigo dos colegas George Bisharat e James Ferguson e do Professor Charles Lindholm. Todos eles me conduziram, com compreensão e tolerância, acadêmica e sentimentalmente, frutos de sólida amizade que até hoje perdura, pelos árduos caminhos da disciplina pessoal e profissional do universo acadêmico dos EUA.

Tendo realizado tese sobre as práticas da Polícia Civil na cidade do RJ, voltei ao Brasil em 1986, dedicando-me com afinco ao ensino e à pesquisa para devolver acadêmica e profissionalmente aquilo que a UFF me havia proporcionado. Ainda em 1990 voltei aos EUA para fazer trabalho de campo com a polícia de Birmingham, Alabama e de San Francisco, California, com bolsa da Comissão Fulbright, conseguida graças a convite de acadêmicos dos EUA que visitaram a UFF e com a interveniência do então Reitor, Professor Raymundo Romeo.

A seguir, coordenei a fundação, desde 1991, com meus colegas do Departamento de Antropologia e do Departamento de Ciência Política, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciência Política no ICHF, iniciado em 1994, hoje coordenado por meu colega Fabio reis Mota.

Na mesma época, liderados pelo Professor Castro Faria, criamos o Núcleo Fluminese de Estudos e Pesquisa – NUFEP, no ICHF, que se tornou, rapidamente, o centro das atividades de pesquisa de um grande número de professores, e alunos de graduação e pós-graduação, liderados pelos então pesquisadores do CNPq Marco Antonio da Silva Mello, Simoni Guedes, Ari Abreu Silva, Arno Vogel e Delma Pessanha Neves, além de mim mesmo.

Em 2000, a pedido da Escola Superior de Polícia Militar do RJ coordenei, também em conjunto com meus colegas de Departamento, a criação do Curso de Especialização em Políticas Públicas de Justiça Criminal e Segurança Pública, que contou com apoio da Fundação Ford, através da Dra. Elizabeth Leeds e do Professor Jorge da Silva e reuniu professores do depto de Antropologia, de Ciência Política e de Comunicação da UFF e outros docentes de outras Universidades do RJ.

Esses recursos e a experiência adquirida em projetos interdisciplinares em rede, desde 1998, quando coordenei um projeto interdisciplinar do PADCT/CIAMB/MCT com a biologia marinha da UFF, em parceria com os colegas Mello, Ronaldo Lobão e  Agnaldo Nepomuceno (Cacá), passando por vários editais de pesquisa e cooperação internacional, entre os quais o CAPES/Cofecub, acabou nos conduzindo à formação de uma rede nacional e internacional de pesquisadores, que se forma institucionalmente a partir de 2000 com Isaac Joseph, na França, Sofia Tiscornia, na Argentina e Daniel dos Santos, no Canadá, todos interessados na comparação dos processos de administração de conflitos praticados pelas instituições ligadas à justiça criminal e à segurança pública e também àquelas ligadas aos conflitos ambientais comuns às populações tradicionais de pescadores de “beira de praia” e de  quilombolas.

A rede se expandiu e em 2009 nosso projeto para a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC), cuja elaboração foi coordenada por nossa colega Lucia Eilbaum, foi aprovado na Chamada Pública do MCT para criação dos INCTs, tendo sido também aprovada sua renovação e financiamento em 2014, hoje abrigando cerca de 100 doutores e 200 pesquisadores em formação em seis estados do Brasil e cinco países do exterior, agrupados em 30 projetos de pesquisa. Montamos então uma equipe administrativa, com Virginia Taveira e Lucio Duarte, que sustentam administrativamente a correção administrativa e financeira do InEAC, além de um acervo bibliográfico especializado, administrado pela bibliotecária Sonia Castro e um Laboratório de Estudos de Mídias supervisionado por Claudio Salles, todos coordenados por um sólido Comitê Gestor, composto por Luis Roberto Cardoso de Oliveira (vice-coordenador/UnB); Maria Stella Amorim (UVA), Rodrigo Azevedo (PUC-RS), Ana Paula Miranda, Simoni Guedes, e Lucia Eilbaum (UFF) que, juntamente comigo orienta os caminhos do nosso Instituto.

Esses recursos de pesquisa, associados à expansão do REUNI, propiciaram a ampliação de nossos horizontes de pesquisa e ensino na UFF, pois nossos ex-alunos de pós-graduação foram aprovados em concursos para professores da UFF em diversos cursos e departamentos, situados em vários campi (Niterói, Campos dos Goytacazes, Angra dos Reis e Pádua). Como resultado dessa massa crítica produzida pelo InEAC, depois de alguns revezes acadêmicos e políticos, com o apoio de colegas do Departamento de Direito Público, em especial  de Ronaldo Lobão, pudemos criar um curso de bacharelado em Segurança Pública, que tratasse esse assunto do ponto de vista da sociedade e não do Estado; este curso, em uma versão condensada, por solicitação da Secretaria de Segurança do RJ, tornou-se também um curso de tecnólogo a distância do pool de instituições públicas para ensino a distância do RJ, (Fundação CECIERJ/CEDERJ), curso que hoje conta com aproximadamente 1.500 alunos situados em 12 pólos do RJ, eficientemente coordenado em seus primeiros anos por meu colega Pedro Heitor Barros Geraldo, apoiado por nossos colegas Monica Grele e Marcos Veríssimo e contando com o apoio incondicional do Presidente da Fundação CECIERJ, Carlos Bielchowski.

 

Finalmente, depois de algumas outras dificuldades político-acadêmicas, acabamos criando, também com o apoio da administração superior da UFF, o InEAC como uma unidade de ensino da UFF - o IAC - hoje dirigido por meu colega Lenin Pires, tendo acabado de aprovar mestrado acadêmico na CAPES em “Justiça e Segurança”, a iniciar-se no primeiro semestre de 2019. A rede internacional de instituições e pesquisadores continua sediada no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Administração de Conflitos, vinculado à PROPPI, que coordeno, apesar de aposentado compulsoriamente por idade desde 2014.

Concluo aqui essa longa exposição, que tomei a liberdade de usar como uma oportunidade de agradecimento e prestação de contas pública à Universidade que me criou como antropólogo e me sustentou acadêmica e profissionalmente durante todos esses 44 anos de magistério superior. Antes de encerrar, entretanto, queria agradecer aos membros ainda vivos de minha família, especialmente as minhas companheiras, que me apoiaram incondicionalmente durante essa longa jornada: a já mencionada Magali, que me trouxe a Niterói, Glaucia, Nikki, Sheyla, Solange e Silvia; e também a minha irmã, Andrea e a meus filhos, Rafael e Felipe e a minha neta Luisa, porque sei que minhas ausências do convívio familiar serão sempre sentidas por eles. No entanto, quando olho para trás vejo que meu tempo pelo menos não foi desperdiçado e que o trabalho institucional rendeu frutos palpáveis.

Nesse embalo, também agradeço a meus professores, que me fizeram seus colegas, a meus colegas que me fizeram seus amigos e a meus alunos que me fizeram professor.

Nesse longo período atravessei, com minha família, meus colegas e alunos - muitos dos quais se transformaram ao longo do tempo em colegas - momentos bastante difíceis, com dificuldades de várias ordens: financeiras, com nossos salários muitas vezes extremamente aviltados; profissionais, com o sistemático desprestígio e/ou desconhecimento de nosso papel social como cientistas sociais e professores universitários; políticas, com a dificuldade de uma sociedade conservadora se habituar à diversidade e à tolerância com a diferença, essenciais para um civilidade que todos buscamos; e acadêmicas, vinculadas à escassez de recursos financeiros e simbólicos para o desenvolvimento de nossos projetos e para o estímulo à criatividade de nossos pesquisadores. Mas sempre enfrentamos essas dificuldades com a esperança de dias melhores que, aliás, pareciam ter finalmente chegado. Eis, no entanto, que maus ventos se anunciam à proa e o nosso barômetro aponta tempestades perfeitas, especialmente para as Universidades públicas.

Já no fim da carreira, queria deixar uma palavra de ânimo em meio a esse horizonte: não desistam, continuem trabalhando, porque em um país como o nosso a imprevisibilidade é a regra que nos exclui das premissas de funcionamento desse mercado tomado enganosamente como tendo um padrão universal. Aqui, a universidade pública, gratuita e de qualidade, com todas as suas ineficiências, deficiências e mazelas, mas também com todas as suas superações, vitórias e realizações é um esteio de segurança e previsibilidade possíveis, que se presta às esperanças de construção democrática do patrimônio ético, social, político e acadêmico do povo brasileiro, que cabe a nós proteger e desenvolver.

 

Bola pra Frente e

 

Muito Obrigado a Todos.

Na foto do dia da premiação estão, além do professor Roberto Kant de Lima, também o vice-reitor da UFF Antonio Claudio da Nóbrega, o pró-reitor da PROPPI Vitor Ferreira, e vários pesquisadores vinculados ao INCT-InEAC.  

Quinta, 08 Novembro 2018 13:18

NOTA PÚBLICA DO INCT-inEAC

NOTA PÚBLICA DO INCT-inEAC

 

Os pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC) vêm expressar sua extrema preocupação com as atitudes demonstradas por círculos próximos ao presidente eleito, seus representantes eleitos e por ele próprio, em manifestações feitas em diferentes momentos, antes e depois da eleição para o quadriênio 2019-2022, os quais vêm combinando o anúncio de políticas regressivas nos âmbitos sociais e econômicos com o uso de expressões impróprias, quando não desrespeitosas e até mesmo ameaçadoras e violentas para com a comunidade científica.

Chama a atenção o pretenso desconhecimento acerca das relevantes contribuições de pesquisadores brasileiros para a formulação e elucidação de temas e problemas candentes para o equilíbrio e desenvolvimento do país no âmbito das ciências exatas, naturais, médicas e biológicas, das humanidades, bem como das ciências sociais aplicadas.

Observa-se também a enunciação de discursos que buscam promover uma pauta política voltada para a desregulamentação de áreas que comprometem a soberania nacional, assim como a capacidade econômica do país em reagir à grave crise econômica instalada em nível internacional (meio ambiente, reservas indígenas, terras quilombolas, pré sal, extinção de estatais estratégicas, etc.).

Por outro lado, anuncia-se o recrudescimento de medidas repressivas e violentas, para lidar com a diversidade de pensamento, credo, orientação sexual e com as demandas históricas por inclusão social.

Essas declarações demonstram, legitimam  e incitam grave intolerância em relação a comportamentos considerados desviantes a partir de uma única perspectiva moral-religiosa que compromete o princípio contemporâneo da diversidade e liberdade de expressão, já tendo motivado atitudes concretas e comprováveis, como agressões físicas e morais, além da presença de alunos civis portando ostensivamente armas nos campi universitários.

Neste sentido, vimos nos solidarizar com os órgãos de imprensa, as instituições de pesquisa, as universidades públicas, as organizações do movimento social, assim como com os colegas pesquisadores e professores e com os indivíduos cujo desempenho profissional e/ou comportamento social foram ou vêm sendo expressamente citados e ameaçados nesta conjuntura difícil.

O INCT-InEAC também subscreve a nota publicada pela ANPOCS, ABA, SBS, ABCP e FBSP e reafirma nosso respeito às normas constitucionais vigentes, que incluem a liberdade de expressão e de cátedra nas Universidades e Instituições de pesquisa e ensino, recentemente expressa e unanimemente reiterada pelo STF, e reivindicamos o Estado Democrático de Direito enquanto horizonte para uma convivência ética, voltada para o convívio das divergências, num ambiente que promova bem estar de todos e construção de dias melhores.

Niterói, 04 de novembro de 2018

Comitê Gestor do INCT-InEAC

O site do INCT-InEAC reproduz aqui a entrevista de João Francisco Werneck, com a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, publicada hoje, 05/11/2018,  na Coluna da Hildergard Angel, no Jornal do Brasil: https://www.jb.com.br/colunistas/hildegard_angel/2018/11/953955-educacao-privada-e-uma-ilusao.html

 

"Educação privada é uma ilusão"


Imprensa censurada no Iate Clube. Universidades em declínio, sobretudo com a anunciada separação do Ensino Superior do Ministério da Educação, passando para o Ministério da Tecnologia. Superpoderes ao ativista de toga. Ainda que não tenha tomado posse, é desta maneira que Jair Bolsonaro começa seu mandato na Presidência do Brasil. Preocupações emergem em todos os setores da sociedade, em especial nas áreas já citadas, estendendo-se para Segurança Pública, Saúde e Meio Ambiente. São tempos de incerteza para o Brasil.

Para falar sobre eles, o repórter da Coluna, JOÃO FRANCISCO WERNECK, entrevistou a professora Ana Paula Miranda, antropóloga e pesquisadora do “Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas” e do “Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos da UFF” (INEAC). Com a autoridade de quem há anos frequenta as universidades e os principais espaços de debate do país, Ana Paula nos recebeu para falar sobre Educação Superior, Políticas Públicas, Intolerância Religiosa e o que mais há de se esperar do governo de Jair Bolsonaro.

Sua entrevista confirma previsões, avisos e até apelos já feitos nesta coluna, anunciando perigos por chegar. O campo de batalha político-ideológico está posto, e os atores já em cena. Ana Paula fala deste momento, e afirma que fazer resistência é diferente de torcer para dar errado. O Brasil é dos brasileiros, dos imigrantes, negros, gays, mulheres e demais minorias. Resistir é zelar pelos nossos.

Macaque in the trees
Professora Ana Paula Miranda, antropóloga e pesquisadora (Foto: Ana Paula Miranda/Divulgação)
Como foram, na UFF, os dias anteriores ao pleito presidencial?

A Universidade tem vivido uma efervescência de movimentos políticos, e não apenas partidários. Há uma reorganização dos movimentos estudantis desde 2013. Com a eleição presidencial, a temática ressurgiu com força, principalmente por conta de uma agenda política que a eleição deixou transparecer, que é de intolerância, intolerância política, religiosa, e de gênero. Há um tema que agitou muito as universidades, que foi o possível fim das cotas. Isso causou uma inquietude. Agora, o problema não é atividade política dentro da Universidade, muito pelo contrário. Nossas faculdades necessitam disso, para que haja exercício político e liberdade de ideias. A UFF, por exemplo, tem um Movimento Cristão, de católicos e protestantes, que faz parte do debate universitário, com pessoas como Ivani dos Santos e a pastora Marina, que foram ameaçados por suas posições não compactuarem com o conservadorismo. É importante manter a pluralidade e o respeito à diversidade.

Houve clima de insegurança, após as invasões policiais sob ordens do TRE?

Me sinto solidária com meus colegas que passaram por isso. Acompanhei de perto esse cenário. A mobilização estudantil passou alguma segurança aos professores. Mas não somos ingênuos e sabemos que há questões acontecendo. A Universidade vem sofrendo ataques há algum tempo. O último, todos sabem, foi a questão da faixa na Faculdade de Direito. Isso é muito interessante porque na Universidade de Roma há uma placa em mármore dizendo que naquela Instituição não se aceita o fascismo e tampouco o nazismo. E aqui, uma faixa, que não é partidária, e que vem sendo exibida desde um episódio de discriminação racial nos Jogos Jurídicos, teve aquela repercussão. A Universidade está lidando com críticas há muito tempo, e algumas delas não têm procedência. Nós sabemos que as Faculdades são muito mais inclusivas do que foram, hoje são majoritariamente femininas e negras.

Você falou de intolerância religiosa, como você avalia isso no Brasil e nas Universidades?

Há um crescimento indiscutível, provado por censos religiosos, do protestantismo neopentecostal. Algumas correntes são fundamentalistas. Algumas... O universo dos evangélicos é muito plural. Diversidade e divergência sempre existiram e vão continuar existindo. Esses grupos fundamentalistas, com sua estratégia proselitista, que é de ir ao confronto, tem produzido acirramento desses casos. Há aquele pastor Tupirani da Hora Lores, que inclusive foi preso. O grupo dele destruiu um centro de umbanda aqui no Catete. Com grupos que não conseguem lidar com a existência de outros grupos religiosos, esse fundamentalismo acirra, e a tendência é de acirrar ainda mais. Porque as declarações políticas dadas nesse momento estimulam que a violência desses grupos cresça. Quando um governante emite determinadas declarações é como se ele dissesse para população: “Pode fazer, nós iremos permitir”; e isso é muito grave.

Qual o papel das universidades no combate ao crescimento da extrema-direita?

Ser o espaço de convivência da diversidade e do debate de ideias. Mas claro que há conflitos.

Teve o episódio da Sara Winter…

Exatamente. Esse episódio é bastante interessante porque ali tem uma questão que foi muito mal esclarecida. A Sara estava ali através de um convite de um professor da Universidade. Não há problema nenhum em levar lideranças religiosas para o espaço público, mas isso apenas quando o debate é plural. E esse grupo não permitia o debate. Era fechado para reprodução ideológica. Acho importante debatermos a religião, assim como a laicidade do estado. O problema é o limite do espaço público, então, quando as faculdades conseguem construir um espaço público plural, é porque elas conseguiram atingir um objetivo. Não existe a bibliografia de deus. Temos que ler absolutamente tudo.

Ainda falando sobre polarização política, você teme ações como a proposta pela parlamentar catarinense, de filmar professores?

Sim. São elementos como esse de que devemos tomar cuidado. Precisamos entender que não existe neutralidade, a neutralidade é uma meta, não um fato. É uma busca para atingir limites equilibrados para posições pessoais. Não podemos acreditar que existe um ambiente neutro, como é o caso dessa moça, porque ela já foi vítima do próprio veneno. Eu mesma neste processo eleitoral, durante uma aula, falava do 11 de setembro, de lideranças políticas, e uma aluna perguntou o meu voto. Isso não tem nada a ver com esconder. Acontece que na sala de aula o espaço de discussão é de outra ordem. Mas nem por isso deixaremos de entender e apresentar o que representa cada discurso. Uma consequência desse processo, e que nos tem preocupado muito, é o sofrimento de alguns estudantes nos conflitos com seus familiares. Principalmente aqueles que não têm uma orientação sexual hétero. Isso foi muito agravado neste momento. São vários casos de estudantes que procuram professores, dizem que pensam em abandonar os cursos... A liberdade e o exercício da democracia fazem bem, e o direito à democracia precisa ser exercitado.

Houve, então, um amadurecimento político dos nossos debates?

Sim, mas houve algumas perdas. A possibilidade de descrença sobre algumas instituições em que havia uma grande estima social, por exemplo.

Você se refere ao TRE?

Sim, quando a juíza diz que uma bandeira antifascista representa uma campanha contra um determinado candidato, então ela está chamando este de fascista. Se não era isso que ela queria dizer, então temos um problema de português.

Mas há um outro lado....

Sim, os momentos de crise podem ser produtivos, para amadurecimento, principalmente. O brasileiro sempre acha que o novo é bom. Eu digo que o novo já nasce velho. Quando falamos de Direitos Humanos, estamos discutindo algo muito antigo. E infelizmente parece que não saímos da Idade Média, sobretudo do ponto de vista de direitos. Se esse processo eleitoral pelo qual passamos permitir uma explicitação disso, a respeito de quem são os subcidadãos brasileiros, eu acho que teremos um ganho. O lugar de produção dos conhecimentos precisa ser preservado.

Falando em subcidadãos, como você avalia a declaração do Wilson Witzel, que quer abater bandidos armados?

Eu uso como exemplo os meus alunos policiais para dizer que isso não cabe. Entre eles, eu diria que é dividido. Há os que apoiam, que fazem coro ao discurso fácil do “bandido bom é bandido morto”, e há aqueles que são contra, mas esses temem falar, porque podem ser punidos. E há os que não têm medo de falar, e dizem que isso é inaceitável. Os snipers, inclusive, foram contra. E por uma questão muito simples: a responsabilidade segue sendo do agente que praticou. Esse é Direito brasileiro. Agora, a proposta não tem qualquer efeito prático. O governante tem que ter cuidado com o que fala. Quando ele diz isso ele está dando um cheque em branco para os agentes da lei. Na prática, alguns vão lá e fazem, mas esses serão punidos severamente. Essa ideia de exclusão de ilicitude já é garantida por lei, e se for em legítima defesa, o agente não é punido. O que não podemos permitir é a montagem de processo. O Auto de Resistência, o filme, fala muito bem desse tema.

Como você avalia a separação do Ensino Superior do Ministério da Educação, passando para o Ministério da Tecnologia?

Com muita preocupação. Constitucionalmente, o que rege o ensino no Brasil é a Lei de Diretrizes e Bases. Ela regulamenta todo esse processo e o Conselho Federal de Educação. Mas isso não foi discutido nessas instâncias. Qualquer mudança consequente em um processo de ensino, deveria considerar uma série de elementos. O que estamos vendo é um show de pirotecnia, com uma acusação equivocada e inconstitucional que é a questão da cobrança das mensalidades. Há uma determinação do STF que proíbe as Universidades de receber até mesmo taxa de matrícula. Do ponto de vista formal, há uma série de omissões, em um tema extremamente complexo, de gente que desconhece o funcionamento dessas instituições. As Universidades querem mais autonomia, de cátedra, financeira, administrativa. E as universidades são tratadas dentro de um conjunto da burocracia pública como se fosse tudo a mesma coisa, mas só que não é. O Bolsonaro tem um discurso privatista, que se difere bastante do Bresser, do PSDB. Mostra desconhecimento. É um risco para o serviço público como um todo. Estamos comprando a narrativa da precariedade do serviço público, sem oferecer nada em troca. É um cheque em branco para o Bolsonaro, e esse é o grande risco.

E como pode ficar o fomento do Governo à pesquisa?

Ninguém sabe. Quando, na verdade, o que precisávamos era um reajuste desses valores e uma ampliação do número de bolsas. Um outro ponto importante é que nós tivemos um momento de expansão das universidades, e isso foi muito necessário para o Brasil. Ainda estamos muito aquém de outros países. Países de referência investem muito dinheiro do seu PIB, dinheiro público, em pesquisas, seja na área de humanas ou tecnologia. Um dos autores mais citados no mundo é Paulo Freire, de humanas. A antropologia brasileira é uma referência mundial. Obama, quando lançou e organizou o Obamacare, consultou a estrutura do SUS. O SUS tem os seus problemas, é claro, a execução é equivocada, mas o projeto é inegavelmente bom. Precisamos parar com esse complexo de vira-lata, e sair vendendo tudo a qualquer custo. Há uma série de discursos nesse processo que são equivocados. A ideia deles é enfraquecer as universidades. Achar que a iniciativa privada resolve é uma ilusão, eles têm outra preocupação./

O site do INCT-InEAC reproduz aqui a entrevista de João Francisco Werneck, com a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, publicada hoje, 05/11/2018,  na Coluna da Hildergard Angel, no Jornal do Brasil: https://www.jb.com.br/colunistas/hildegard_angel/2018/11/953955-educacao-privada-e-uma-ilusao.html

 

"Educação privada é uma ilusão"


Imprensa censurada no Iate Clube. Universidades em declínio, sobretudo com a anunciada separação do Ensino Superior do Ministério da Educação, passando para o Ministério da Tecnologia. Superpoderes ao ativista de toga. Ainda que não tenha tomado posse, é desta maneira que Jair Bolsonaro começa seu mandato na Presidência do Brasil. Preocupações emergem em todos os setores da sociedade, em especial nas áreas já citadas, estendendo-se para Segurança Pública, Saúde e Meio Ambiente. São tempos de incerteza para o Brasil.

Para falar sobre eles, o repórter da Coluna, JOÃO FRANCISCO WERNECK, entrevistou a professora Ana Paula Miranda, antropóloga e pesquisadora do “Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas” e do “Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos da UFF” (INEAC). Com a autoridade de quem há anos frequenta as universidades e os principais espaços de debate do país, Ana Paula nos recebeu para falar sobre Educação Superior, Políticas Públicas, Intolerância Religiosa e o que mais há de se esperar do governo de Jair Bolsonaro.

Sua entrevista confirma previsões, avisos e até apelos já feitos nesta coluna, anunciando perigos por chegar. O campo de batalha político-ideológico está posto, e os atores já em cena. Ana Paula fala deste momento, e afirma que fazer resistência é diferente de torcer para dar errado. O Brasil é dos brasileiros, dos imigrantes, negros, gays, mulheres e demais minorias. Resistir é zelar pelos nossos.

Macaque in the trees
Professora Ana Paula Miranda, antropóloga e pesquisadora (Foto: Ana Paula Miranda/Divulgação)
Como foram, na UFF, os dias anteriores ao pleito presidencial?

A Universidade tem vivido uma efervescência de movimentos políticos, e não apenas partidários. Há uma reorganização dos movimentos estudantis desde 2013. Com a eleição presidencial, a temática ressurgiu com força, principalmente por conta de uma agenda política que a eleição deixou transparecer, que é de intolerância, intolerância política, religiosa, e de gênero. Há um tema que agitou muito as universidades, que foi o possível fim das cotas. Isso causou uma inquietude. Agora, o problema não é atividade política dentro da Universidade, muito pelo contrário. Nossas faculdades necessitam disso, para que haja exercício político e liberdade de ideias. A UFF, por exemplo, tem um Movimento Cristão, de católicos e protestantes, que faz parte do debate universitário, com pessoas como Ivani dos Santos e a pastora Marina, que foram ameaçados por suas posições não compactuarem com o conservadorismo. É importante manter a pluralidade e o respeito à diversidade.

Houve clima de insegurança, após as invasões policiais sob ordens do TRE?

Me sinto solidária com meus colegas que passaram por isso. Acompanhei de perto esse cenário. A mobilização estudantil passou alguma segurança aos professores. Mas não somos ingênuos e sabemos que há questões acontecendo. A Universidade vem sofrendo ataques há algum tempo. O último, todos sabem, foi a questão da faixa na Faculdade de Direito. Isso é muito interessante porque na Universidade de Roma há uma placa em mármore dizendo que naquela Instituição não se aceita o fascismo e tampouco o nazismo. E aqui, uma faixa, que não é partidária, e que vem sendo exibida desde um episódio de discriminação racial nos Jogos Jurídicos, teve aquela repercussão. A Universidade está lidando com críticas há muito tempo, e algumas delas não têm procedência. Nós sabemos que as Faculdades são muito mais inclusivas do que foram, hoje são majoritariamente femininas e negras.

Você falou de intolerância religiosa, como você avalia isso no Brasil e nas Universidades?

Há um crescimento indiscutível, provado por censos religiosos, do protestantismo neopentecostal. Algumas correntes são fundamentalistas. Algumas... O universo dos evangélicos é muito plural. Diversidade e divergência sempre existiram e vão continuar existindo. Esses grupos fundamentalistas, com sua estratégia proselitista, que é de ir ao confronto, tem produzido acirramento desses casos. Há aquele pastor Tupirani da Hora Lores, que inclusive foi preso. O grupo dele destruiu um centro de umbanda aqui no Catete. Com grupos que não conseguem lidar com a existência de outros grupos religiosos, esse fundamentalismo acirra, e a tendência é de acirrar ainda mais. Porque as declarações políticas dadas nesse momento estimulam que a violência desses grupos cresça. Quando um governante emite determinadas declarações é como se ele dissesse para população: “Pode fazer, nós iremos permitir”; e isso é muito grave.

Qual o papel das universidades no combate ao crescimento da extrema-direita?

Ser o espaço de convivência da diversidade e do debate de ideias. Mas claro que há conflitos.

Teve o episódio da Sara Winter…

Exatamente. Esse episódio é bastante interessante porque ali tem uma questão que foi muito mal esclarecida. A Sara estava ali através de um convite de um professor da Universidade. Não há problema nenhum em levar lideranças religiosas para o espaço público, mas isso apenas quando o debate é plural. E esse grupo não permitia o debate. Era fechado para reprodução ideológica. Acho importante debatermos a religião, assim como a laicidade do estado. O problema é o limite do espaço público, então, quando as faculdades conseguem construir um espaço público plural, é porque elas conseguiram atingir um objetivo. Não existe a bibliografia de deus. Temos que ler absolutamente tudo.

Ainda falando sobre polarização política, você teme ações como a proposta pela parlamentar catarinense, de filmar professores?

Sim. São elementos como esse de que devemos tomar cuidado. Precisamos entender que não existe neutralidade, a neutralidade é uma meta, não um fato. É uma busca para atingir limites equilibrados para posições pessoais. Não podemos acreditar que existe um ambiente neutro, como é o caso dessa moça, porque ela já foi vítima do próprio veneno. Eu mesma neste processo eleitoral, durante uma aula, falava do 11 de setembro, de lideranças políticas, e uma aluna perguntou o meu voto. Isso não tem nada a ver com esconder. Acontece que na sala de aula o espaço de discussão é de outra ordem. Mas nem por isso deixaremos de entender e apresentar o que representa cada discurso. Uma consequência desse processo, e que nos tem preocupado muito, é o sofrimento de alguns estudantes nos conflitos com seus familiares. Principalmente aqueles que não têm uma orientação sexual hétero. Isso foi muito agravado neste momento. São vários casos de estudantes que procuram professores, dizem que pensam em abandonar os cursos... A liberdade e o exercício da democracia fazem bem, e o direito à democracia precisa ser exercitado.

Houve, então, um amadurecimento político dos nossos debates?

Sim, mas houve algumas perdas. A possibilidade de descrença sobre algumas instituições em que havia uma grande estima social, por exemplo.

Você se refere ao TRE?

Sim, quando a juíza diz que uma bandeira antifascista representa uma campanha contra um determinado candidato, então ela está chamando este de fascista. Se não era isso que ela queria dizer, então temos um problema de português.

Mas há um outro lado....

Sim, os momentos de crise podem ser produtivos, para amadurecimento, principalmente. O brasileiro sempre acha que o novo é bom. Eu digo que o novo já nasce velho. Quando falamos de Direitos Humanos, estamos discutindo algo muito antigo. E infelizmente parece que não saímos da Idade Média, sobretudo do ponto de vista de direitos. Se esse processo eleitoral pelo qual passamos permitir uma explicitação disso, a respeito de quem são os subcidadãos brasileiros, eu acho que teremos um ganho. O lugar de produção dos conhecimentos precisa ser preservado.

Falando em subcidadãos, como você avalia a declaração do Wilson Witzel, que quer abater bandidos armados?

Eu uso como exemplo os meus alunos policiais para dizer que isso não cabe. Entre eles, eu diria que é dividido. Há os que apoiam, que fazem coro ao discurso fácil do “bandido bom é bandido morto”, e há aqueles que são contra, mas esses temem falar, porque podem ser punidos. E há os que não têm medo de falar, e dizem que isso é inaceitável. Os snipers, inclusive, foram contra. E por uma questão muito simples: a responsabilidade segue sendo do agente que praticou. Esse é Direito brasileiro. Agora, a proposta não tem qualquer efeito prático. O governante tem que ter cuidado com o que fala. Quando ele diz isso ele está dando um cheque em branco para os agentes da lei. Na prática, alguns vão lá e fazem, mas esses serão punidos severamente. Essa ideia de exclusão de ilicitude já é garantida por lei, e se for em legítima defesa, o agente não é punido. O que não podemos permitir é a montagem de processo. O Auto de Resistência, o filme, fala muito bem desse tema.

Como você avalia a separação do Ensino Superior do Ministério da Educação, passando para o Ministério da Tecnologia?

Com muita preocupação. Constitucionalmente, o que rege o ensino no Brasil é a Lei de Diretrizes e Bases. Ela regulamenta todo esse processo e o Conselho Federal de Educação. Mas isso não foi discutido nessas instâncias. Qualquer mudança consequente em um processo de ensino, deveria considerar uma série de elementos. O que estamos vendo é um show de pirotecnia, com uma acusação equivocada e inconstitucional que é a questão da cobrança das mensalidades. Há uma determinação do STF que proíbe as Universidades de receber até mesmo taxa de matrícula. Do ponto de vista formal, há uma série de omissões, em um tema extremamente complexo, de gente que desconhece o funcionamento dessas instituições. As Universidades querem mais autonomia, de cátedra, financeira, administrativa. E as universidades são tratadas dentro de um conjunto da burocracia pública como se fosse tudo a mesma coisa, mas só que não é. O Bolsonaro tem um discurso privatista, que se difere bastante do Bresser, do PSDB. Mostra desconhecimento. É um risco para o serviço público como um todo. Estamos comprando a narrativa da precariedade do serviço público, sem oferecer nada em troca. É um cheque em branco para o Bolsonaro, e esse é o grande risco.

E como pode ficar o fomento do Governo à pesquisa?

Ninguém sabe. Quando, na verdade, o que precisávamos era um reajuste desses valores e uma ampliação do número de bolsas. Um outro ponto importante é que nós tivemos um momento de expansão das universidades, e isso foi muito necessário para o Brasil. Ainda estamos muito aquém de outros países. Países de referência investem muito dinheiro do seu PIB, dinheiro público, em pesquisas, seja na área de humanas ou tecnologia. Um dos autores mais citados no mundo é Paulo Freire, de humanas. A antropologia brasileira é uma referência mundial. Obama, quando lançou e organizou o Obamacare, consultou a estrutura do SUS. O SUS tem os seus problemas, é claro, a execução é equivocada, mas o projeto é inegavelmente bom. Precisamos parar com esse complexo de vira-lata, e sair vendendo tudo a qualquer custo. Há uma série de discursos nesse processo que são equivocados. A ideia deles é enfraquecer as universidades. Achar que a iniciativa privada resolve é uma ilusão, eles têm outra preocupação./

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