Claúdio Salles
CONVERSAS ANTROPOFÁGICAS: ARTE, SAMBA E QUILOMBOS
O Programa de Pós-graduação em Antropologia (PPGA) realiza, nessa quarta-feira, dia 27 de março de 2019, "Conversas Antropofágicas". O tema dessa edição será ARTE, SAMBA E QUILOMBOS: formas de re-existir para fazer democracia e contará com a presenças na mesa de Luis Pinto (Quilombo Sacopã), Renatão do Quilombo (Grotão), Gabriel Nardachione (UBA-CONICETE), Yolanda Ribeiro (PPGA/INEAC/UFF), Daniela Velasquez (PPGA-UFF), Marcelo Campos (UFGD/INEAC/UFF). O evento acontecerá na sala 231, do Bloco "P" , do Campus do Gragoatá da UFF em Niterói.
defesa de dissertação: A GENTE SÓ QUER RESPEITO
Hoje, dia 21 de março de 2019, as 14h, no LEMI vai acontecer a defesa de dissertação de mestrado de Juliana Ludmer (PPGSD/UFF): "A gente só quer respeito: as percepções dos moradores de favela situada na Zona Sul do Rio de Janeiro sobre “as polícias” e “os bandidos” no contexto do “fracasso” do Programa de Pacificação (UPP)".
Banca:
Lenin Pires (orientador)
Leticia Luna (UERJ)
Lucía Eilbaum (PPGA/UFF)
O “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO” E O ARMAMENTISMO: UMA MISTURA EXPLOSIVA.
Publicamos aqui no site o artigo de Leonardo Ramos, Bacharel em Segurança Pública pela UFF, intitulado: O “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO” E O ARMAMENTISMO: UMA MISTURA EXPLOSIVA.
“Nos Estados Unidos todo o indivíduo pode ter uma arma para se defender”. “Se no Brasil as pessoas tivessem acesso às armas, a criminalidade iria diminuir, já que o bandido iria pensar duas vezes antes de roubar o cidadão de bem”. Estas são afirmações que rotineiramente se ouve para justificar a política pública de acesso às armas de fogo no Brasil. Contudo, usar como parâmetro o modelo social estadunidense para argumentar razões a favor da política armamentista no Brasil me parece desarrazoado. E isto, porque, antropologicamente falamos de duas culturas distintas.
Em países de longa tradição liberal (a exemplo os de língua inglesa), onde os valores burgueses de liberdade, igualdade e individualidade foram a bússola da formação societária, os indivíduos se veem como iguais e, portanto, os conflitos nestes locais têm seus polos equilibrados. Nestes sistemas, embora o mercado trace caminhos distintos entre os indivíduos, há uma consciência recíproca de que todos são iguais perante a lei. Portanto, quebrar esta lógica é um ultraje moral.
Já no Brasil - um país que recentemente saiu de uma monarquia - os valores que orientam as relações sociais são opostos ao anterior. Enquanto nos Estados Unidos, segundo os antropólogos Roberto Damatta e Roberto Kant de Lima, o núcleo social é o “indivíduo”, aqui este núcleo é a “pessoa”. Desta forma, entre os norte americanos não é cultural se evocar o argumento da autoridade para resolver problemas, mas, sim, a autoridade do argumento. Não interessa, portanto, quem está certo ou errado, e sim porque o está.
Neste diapasão, Damatta sinaliza que nossa sociedade tem como unidade social principal a “pessoa”: alguém que não se relaciona com o outro numa lógica igualitária, mas revestida do apadrinhamento, do conchavo, da posição, se valendo do estrato social em que se localiza. Desta forma, diante do conflito, os polos se desigualam no “VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?”.
Por fim, trilhamos todo este raciocínio para chegarmos a uma pergunta: enquanto o mecanismo que nós utilizamos para “colocar cada um no seu lugar” – seja durante uma discussão de trânsito, seja um desentendimento numa abordagem policial – for simplesmente uma “carteirada”, os oponentes se ajustam aos seus lugares e tá tudo certo.... Mas, quando cada um de nós, no “você sabe com quem está falando”, sacarmos do três oitão cromado de 6 polegadas, a coisa pode tomar outros rumos. Isto será ou não uma mistura explosiva?
Por: Leonardo Ramos
Bacharel em Segurança Pública pela UFF
OAB promove palestra de Jorge da Silva no Dia Internacional contra a discriminação racial
O Dia Internacional contra a discriminação racial será celebrado na OAB Niterói com palestra do cientista político Jorge da Silva (Doutor em Ciências Sociais pela UERJ e professor-adjunto / pesquisador-visitante da mesma universidade. Professor conteudista do Curso EAD de Tecnólogo em Segurança Pública (UFF - CEDERJ / CECIERJ).
A atividade é uma iniciativa da Comissão de Igualdade Racial da OAB Niterói.O encontro será no auditório da entidade, a partir das 18 horas, tendo como expositor o coronel da PM Jorge da Silva, professor doutor da Uerj e ex-chefe do Estado Maior da PM. Como convidado especial o evento contará com a presença do cantor e compositor Altay Velloso.
O evento tem a parceria da Coordenação Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Niterói.
Seminário: Racismo em foco: campos, fronteiras e diálogos
Acontece na UFF, na próxima terça, dia 19 de março de 2019, o Seminário: Racismo em foco: campos, fronteiras e diálogos . O evento será realizado no âmbito da parceria do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense e o Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Tiradentes (Sergipe), como resultado do projeto PROMOB "Doutrinas, Práticas e Saberes Locais".
A mesa do seminários será coordenada pela pesquisadora vinculada ao INCT INEAC, Profº. Drª Ana Paula Mendes de Miranda (PPGA/UFF) e terá a participação do Prof. Dr. Ilzver Mattos (PPGDH/UNIT), a professora Walkyria Nitcheroi e a deputada estadual Renata Souza, eleita pelo PSOL.
Terça-feira, 19 de março de 2019 de 18:00 a 21:00
Sala 516 - Bloco O - Campus Gragoatá (UFF)
Veja no cartaz, mais detalhes do Seminário: Racismo em foco: campos, fronteiras e diálogos
II Encontro de Mulheres: Mulheres potência e resistência
O auditório do ICHF recebe, no próximo dia 27 de março, o II Encontro de Mulheres. Mulheres potência e resistência . Segurança Pública - Mesa de resistência com as participações de Mônica Benício (Militante de Direitos Humanos); Carol Bispo (Advogada de Segurança Pública da Maré , coordenadora do projeto " Elas existem - Mulheres encarceradas"; Adriana Mota (Integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e colaboradora da ASPLANDE); além delas a professora Klarissa Platero (vice-chefe do departamento de Segurança Pública da UFF/RJ).
Confira abaixo mais detalhes do evento
VI COLÓQUIO DO LABPEC PESQUISAS EM POLÍTICA E SOCIOLINGUÍSTICA DE CONTATO
Vai acontecer na UFF, nbos próximos dias 18, 19 e 20 de março de 2019 o VI COLÓQUIO DO LABPEC PESQUISAS EM POLÍTICA E SOCIOLINGUÍSTICA DE CONTATO.
Confira no cartaz abaixo a programação do evento que é apoiado pela FAPERJ.
Segunda-feira, 18 de
Pesquisadores do INCT/INEAC participam da I Jornada de Estudos sobre Segurança Pública e Direitos Humanos em Roraima.
Nessa terça, dia 13 de março de 2019, pesquisadores vinculados ao INCT/INEAC participaram da I Jornada de Estudos sobre Segurança Pública e Direitos Humanos, que aconteceu na Universidade Estadual de Roraima. O evento teve como proposta proporcionar um espaço de discussão no âmbito dos estudos em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, por meio do qual os estudantes e professores do Brasil e exterior interagissem com pesquisadores de diferentes programas e instituições.
Entre os palestrantes do Ineac estiveram presentes: Paloma Monteiro, doutoranda do PPGA-UFF e pesquisadora do INCT-InEAC, que fez a palestra de abertura do Mestrado em Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Estadual de Roraima e desenvolveu o tema “Pensando diálogos possíveis entre o Direito e a Antropologia: sobre métodos e olhares”. Outro palestrante foi o antropólogo Dr. Ronaldo Joaquim de Silveira Lobão - Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (1997), mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2000), doutor em Antropologia pela Universidade de Brasília (2006) e pós-doutor pelo Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe da UFRR (2015). Professor do Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito PPGSD. Além deles também participou do evento o antropólogo Lenin Pires ( Doutor em Antropologia (UFF); Professor do Departamento de Segurança Pública e Diretor do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da UFF (InEAC/UFF); Professor Permanente dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia, Sociologia e Direito da UFF), com a palestra: Mercados fragmentados em territórios sob controle armado: processos de administrar conflitos no Rio de Janeiro contemporâneo.
DEFESA DE DISSERTAÇÃO: "O Paciente dedo verde: uma etnografia sobre o consumo e o cultivo de canábis para fins terapêuticos no Rio de Janeiro”
O Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense convida a todxs para participarem da banca de Defesa de Dissertação de Mestrado de Yuri José de Paula Motta sob o título "O Paciente dedo verde: uma etnografia sobre o consumo e o cultivo de canábis para fins terapêuticos no Rio de Janeiro”, que será realizada no dia 14/03/2019, às 14h, na sala de reunião do Nepeac (Rua José Clemente, 73, Niterói).
A banca examinadora será composta por Frederico Policarpo (PPGSD/UFF) – orientador, Marcos Veríssimo (InEAC/UFF) - examinador, Martinho Braga (UERJ) - examinador.
HOMENAGEM A MIO VACITE, MÚSICO E ATIVISTA CIGANO
(31/Jan/1941 - 11/Mar/2019)
Um dos homens mais íntegros que já conheci em toda minha vida era cigano. Ao confrontar lugares-comuns por onde passava, Mio Vacite era, antes de tudo, um humanista inconformado com as injustiças. Com ele aprendi na prática o significado da palavra convivência, e que as diferenças culturais existem sim e devem ser respeitadas, mas não devem se sobrepor aos valores universais. Era um grande defensor da liberdade e da vida, contra todas as formas de intolerância e preconceito.
Carioca de origem sérvia e Rom do clã Horahano, assumiu o pioneirismo e protagonismo das mobilizações ciganas no país, ousando tirá-los da região de penumbra que muitos grupos preferem à visibilidade no espaço público, transitando em múltiplos planos sociais. Em meados da década de 1980, à frente do Centro de Estudos Ciganos - CEC, participou da demanda ao Paço Imperial para a fixação de uma placa de cobre no chamado "Adro dos Ciganos", buscando restituir um importante lugar de memória do grupo na cidade, destacando-se como um dos organizadores da I Semana de Cultura Cigana da América Latina na Casa de Rui Barbosa. Em 1993, fundou e passou a presidir a União Cigana do Brasil - UCB, obtendo projeção internacional como ativista quando a entidade foi reconhecida como representante brasileira da cultura cigana pela International Roma Federation (IRU), filiada à Organização das Nações Unidas - ONU.
Sua dignidade, expressividade e elegância insubstituível em representar as culturas ciganas, valendo-se de seu notável talento musical e arguta capacidade de mobilização política, era sua marca personalíssima, buscando desfazer estereótipos e mistificações como orador de improviso, impiedoso contra as manipulações da identidade, a veleidade das pretensões políticas e as formas de entesouramento do poder. Como exímio violinista, encarnava bem o papel, conjugando sua estética e sua ética na luta pela visibilidade dos ciganos no Brasil, por via das artes, da música e da dança. Somava-se a essas qualidades seu raro senso de humor e sua fina capacidade de interagir, buscando tirar partido das representações positivas.
Foi assim que o conheci, no Salão Negro do Ministério da Justiça, em 24 de maio de 2007, em apresentação do conjunto musical Mio Vacite e o Encanto Cigano na primeira celebração oficial do Dia Nacional do Cigano em Brasília, quando o Prof. Marco Antonio da Silva Mello e eu comparecemos à cerimônia, representando a Associação Brasileira de Antropologia - ABA durante a gestão dos Profs. Luís Roberto Cardoso de Oliveira e Roberto Kant de Lima. A pesquisa realizada por nós, do Laboratório de Etnografia Metropolitana - LeMetro/IFCS-UFRJ, sobre a presença cigana no Rio de Janeiro desde os tempos coloniais, com particular interesse sobre os Calon do bairro do Catumbi, todos eles oficiais de justiça conformando um instigante nicho profissional, passou a ter em Mio Vacite um interlocutor frequente e um delicado anfitrião em nossas numerosas visitas. Nosso grupo incluía a pesquisadora Mirian Alves de Souza, que dedicou sua formação acadêmica a esse tema e mais tarde estudaria o projeto identitário da União Cigana do Brasil, em comparação com o movimento Rom no Canadá. Entusiasta do diálogo profícuo entre ativistas e acadêmicos, Mio Vacite também participou das pesquisas da Profa. Ana Paula Mendes de Miranda no Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos - INCT-INEAC/UFF, por sua atuação efetiva como membro da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa - CCIR.
Com o passar do tempo, ultrapassando possíveis barreiras e mesmo os enquadramentos formais das pesquisas em curso, passei a desenvolver com ele uma relação de fina sintonia, admiração recíproca e confiança mútua. Como antropólogo convertido em grande amigo, pude estar, conviver e aprender com Mio Vacite nas mais diversas e numerosas ocasiões, em eventos e situações sociais de todos os tipos: programas de televisão, seminários acadêmicos na UFF, na UFRJ, na UERJ e no ISER, apresentações em centros culturais, festas ciganas em clubes no subúrbio, reuniões em ministérios, desfiles de escolas de samba, visitas a acampamentos pelo interior do Estado, encontros político-culturais sob lonas de circo. Muitas vezes levei colegas pesquisadores do Brasil e do exterior a seu encontro, dentre eles Marc Bordigoni (França), Greta Persico (Itália) e Sofiya Zahova (Bulgária e Islândia). Mio, por sua vez, me afiançava como colaborador a outros ativistas ciganos, como sua amiga Yáskara Guelpa, e fazia questão de minha presença em Brasília nos debates e reuniões sobre políticas públicas minoritárias para ciganos. E assim estive a seu lado também no momento extremo de dor, quando faleceu sua saudosa esposa Jaqueline Liz Vacite em 27 de agosto de 2015, sua incansável parceira de palcos, de mobilizações, de uma vida enfim.
A súbita e triste partida desse querido interlocutor me coloca diante não só da dor da perda de uma longa amizade interrompida, mas diante dos limites da pesquisa antropológica para além de nossos desejos e possibilidades. Se por um lado, nos deixamos submeter ao tempo do outro, sem ver passar as horas na ante-sala das consultas espirituais realizadas na casa do anfitrião, enquanto engraxava seus sapatos e separava as partituras para o próximo espetáculo; por outro, temos que administrar nossas urgências, sempre correndo atrás do tempo, nessa implacável era da cronofagia em que tempo sempre nos falta. É triste constatar que não existe experiência antropológica de longa duração que não nos confronte com a presença dolorosa da morte daquele que mais ativamente contribuiu e apreendeu o significado de nossas pesquisas da perspectiva de dentro, deixando muitos fragmentos em nossa lembrança, fotografias e anotações dispersas, e a sensação de vazio diante de tudo aquilo que não tivemos tempo de ouvir e aprender.
Felipe Berocan Veiga
Chefe do Departamento de Antropologia da UFF
Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA-UFF
Pesquisador do Laboratório de Etnografia Metropolitana - LeMetro/IFCS-UFRJ e do INCT-InEAC/UFF.
Rio de Janeiro - RJ, 11 de março de 2019.
Foto: Felipe Berocan Veiga, 11/Mai/2009.