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Claúdio Salles

Claúdio Salles

Acontecerá mo Campus do Gragoatá da UFF, nos dias 27 e 28 de agosto de 2018, o  seminário "Segurança pública, violência e direitos humanos" . O evento é organizado pela Associação Brasileira de Antropologia – CDH/ABA, em parceria com Grupo de Pesquisas em Antropologia do Direito e Moralidades – GEPADIM/NUFEP/UFF e o INCT-InEAC, com a apoio da Fundação Ford e da PROPII/UFF.

O seminário "Segurança Pública, violência e direitos humanos" traz para o diálogo experiências e vivências relativas a diversas formas de violência de estado, discriminação de gênero, raça e condição social, bem como referidas as demandas por direitos e justiça. O evento se insere no histórico de encontros que o GEPADIM vem promovendo, fomentando o diálogo entre pesquisadores, ativistas, gestores e outros atores envolvidos nessas experiências e atuantes no campo dos "direitos humanos".

O evento será auditório do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, localizado no Bloco P do Campus do Gragaotá, e na sua última sessão de Cine Debate no Teatro da UFF, em Icaraí/Niterói. 

O LEMI transmitirá o evento .Para assistir acesse a Fan Page do INCT InEAC : https://www.facebook.com/inctineac/

Ou o canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/ineac

Confira no segundo cartaz a programação do evento : 

Segunda, 20 Agosto 2018 11:14

debate O CORPO E O SAGRADO

O Departamento de Segurança Pública - UFF, juntamente com o Coletivo em Silêncio e o Laboratório de Direito à Cidade - Nepp-DH Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH/UFRJ) (UFRJ), realizam no próximo dia 22 de agosto de 2018, o debate O CORPO E O SAGRADO, com a participação da Profa Dra Ana Paula Miranda (PPGA/UFF –INCT/InEAC), Profa Carolina Rocha Doutoranda IESP/UERJ e pesquisadora ERARIR/LHER-UFRJ, Prof. Dr. César Pinheiro Teixeira (NECVU/UFRJ), Profa Dra Danieli Machado (DSP/InEAC/UFF) e Msc. Fernando Henrique Cardoso Neves (PPGSD/UFF).

A abertura e mediação das mesas propõem explorar o Corpo como fenômeno de resistência em defesa da vida, epicentro capaz de garantir direitos ameaçados às comunidades e complexidades globais, econômicas, subjetivas, cognitivas e territoriais nas megacidades. O debate sobre os direitos fundamentais é expressão urgente à judicialização da vida e a privatização do interesse público, o trabalho, a cultura por direitos e a política.

O projeto propõem promover o corpo como centralidade às pesquisas e ações em favor de novas perspectivas, pedagogias contemporâneas de inclusões, e através de experiências voltadas à dinamização de lugares, resistências, memórias e lutas identitárias. Um olhar pela produção do corpo, ainda que individual ou coletivamente silenciado, invisibilizado, assediado, criminalizado e aniquilado, porém em estado de presença atualizado pelas atenções da sensível dimensão estética, e deseja o experimento à outras formas de vida e composição por intervenções aliadas aos desvios que arte é capaz.

Moderação Coletivo em Silêncio e Laboratório de Direito à Cidade

Temáticas Indicadas da Mesa - O Corpo e o Sagrado
Os corpos ameaçados e a preservação do culto dos ancestrais.
Estado laico e a atividade cristã nas unidades prisionais.
História da religião dos povos afro-ameríndios
Corpo sagrado de ordem mítica.
Mulheres no sacerdócio na religião sobre os direitos a espiritualidade ameaçados.
As forças pentecostais conservadoras.
Entre a arte e as filosofias religiosas e entidades cósmicas afro-ameríndias orientadas pela ancestralidade, memórias e identidade. Ubuntu como proposta Política.

https://www.facebook.com/events/485083198630622/

https://www.facebook.com/coletivoemsilencio/videos/892355767626484/

A ABA - Associação Brasileira de Antropologia, o GEAM - Grupo de Estudos Amazônicos e a UFF - Universidade Federal Fluminense, realizam no próximo dia 22 de agosto de 2018 a HOMENAGEM PÓSTUMA a  Rubem Thomaz  Almeida e sua prática antropológica decolonial em defesa dos grupos indígenas Guaranis.

  

O evento acontecerá às 16 horas, na sala 510 do Bloco "O" do Campus do Gragoatá da UFF.  Confira a programação no cartaz do evento. 

 

As antropólogas vinculadas ao INCT InEAC  Jacqueline de Oliveira Muniz e Rosiane Rodrigues de Almeida   publicam, no formato entrevista para revista de linguistica da UNICAMP "Respondendo às balas: Segurança pública sob intervenção das palavras" . A entrevista com a antropóloga Jacqueline Muniz tem o objetivo de explicitar os conflitos institucionais que envolvem o ‘Poder de Guerra’ frente ao ‘Poder de Polícia’ estabelecidos pela intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, a ausência de protocolos de utilização do uso legal e legítimo da força e os efeitos que a administração pacífica ou violenta, institucional ou informal, dos conflitos têm para a sociedade. O texto é resultado de um processo de bricolagem que uniu transcrições de partes de entrevistas concedidas por Jacqueline Muniz a emissoras de TV e jornais impressos. As transcrições utilizadas têm o sentido de depreender a densidade (GEERTZ, 2008) dos temas relativos às demandas da população, como também a de intervir o mínimo possível entre a entrevistada e o público. Nestes termos, do ponto de vista metodológico, o pensamento antropológico guiou a escrita jornalística, no sentido de que a informação seja compreensível, a partir de dados que me afetam e mobilizam (CEFAÏ, 2011), como cidadã, mulher e companheira das lutas por uma sociedade mais justa, diversa e equânime.

Para conferir " Respondendo às balas: Segurança pública sob intervenção das palavras"  acesse https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8652393 ou faça o download do PDF abaixo.

 

As antropólogas vinculadas ao INCT InEAC  Jacqueline de Oliveira Muniz e Rosiane Rodrigues de Almeida   publicam, no formato entrevista para revista de linguistica da UNICAMP "Respondendo às balas: Segurança pública sob intervenção das palavras" . A entrevista com a antropóloga Jacqueline Muniz tem o objetivo de explicitar os conflitos institucionais que envolvem o ‘Poder de Guerra’ frente ao ‘Poder de Polícia’ estabelecidos pela intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, a ausência de protocolos de utilização do uso legal e legítimo da força e os efeitos que a administração pacífica ou violenta, institucional ou informal, dos conflitos têm para a sociedade. O texto é resultado de um processo de bricolagem que uniu transcrições de partes de entrevistas concedidas por Jacqueline Muniz a emissoras de TV e jornais impressos. As transcrições utilizadas têm o sentido de depreender a densidade (GEERTZ, 2008) dos temas relativos às demandas da população, como também a de intervir o mínimo possível entre a entrevistada e o público. Nestes termos, do ponto de vista metodológico, o pensamento antropológico guiou a escrita jornalística, no sentido de que a informação seja compreensível, a partir de dados que me afetam e mobilizam (CEFAÏ, 2011), como cidadã, mulher e companheira das lutas por uma sociedade mais justa, diversa e equânime.

Para conferir " Respondendo às balas: Segurança pública sob intervenção das palavras"  acesse https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8652393 ou faça o download do PDF abaixo.

 

Quarta, 15 Agosto 2018 00:40

A Importância Das Eleições De 2018

A Importância Das Eleições De 2018 - Um diálogo a favor da Cidadania , esse é o tema do debate que acontece no próximo dia 25 de agosto de 2018 do CEDERJ - POLO NITERÓI, às 9 da manhã . O evento trata de algumas temáticas da agenda política brasileira e sua importância para as eleições desse ano. Dentre os palestrantes está a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, pesquisadora vinculada ao INCT InEAC, além dela Carlos Sávio Teixeira (Ciência Política UFF),  Carlos Eduardo Martins (Economia Política UFRJ) e Carlos Vitor de Oliveira (Informática IFRJ) .

O CEDERJ Polo Niterói fica na  Escola Municipal Paulo Freire: Rua Soares Miranda, 77, Fonseca, Niterói . https://goo.gl/maps/iBiN6DZMvin

Terça, 14 Agosto 2018 16:35

JOSÉ COLAÇO NO VIVA A CIÊNCIA

O programa Mundo Universitário, da Cândido Mendes de Campos, entrevistou essa semana o antropólogo José Colaço, pesquisador vinculado ao INCT/InEAC. Ele falou  sobre o Neanf e a participação no Programa de Iniciação Científica VIVA A CIÊNCIA, da Prefeitura de Campos. Assista a matéria acessando o link : https://www.youtube.com/watch?v=CNkCszEVeIw

 

O site do INEAC reproduz aqui a entrevista com o sociólogo Gabriel Feltran, professor da Universidade Federal de São Carlos e diretor científico do CEM (Centro de Estudos da Metrópole) da Universidade de São Paulo, intitulada  "PCC não tem dono. É uma fraternidade do crime", publicado no site uol.com.br 

Nem uma empresa do crime ou apenas uma estrutura de caráter militar. Maior facção criminosa do país e presente em todos os estados, o PCC (Primeiro Comando da Capital) é uma fraternidade. Uma sociedade secreta cujo objetivo principal é o progresso de seus irmãos (membros) e voltada para a "luta violenta e silenciosa contra o sistema".

Esta é a visão do sociólogo Gabriel Feltran, professor da Universidade Federal de São Carlos. Ele é autor do livro recém-lançado "Irmãos --Uma História do PCC" (Companhia das Letras), no qual traça um panorama da trajetória do grupo criminoso fundado por oito detentos no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté (SP), há quase 25 anos . A obra é baseada em uma pesquisa de campo feita nas últimas duas décadas pelo autor na periferia de São Paulo. 

"Oferecendo aos presidiários uma ordem previsível para a vida cotidiana, o PCC ganhou respeito e o consentimento ativo da massa prisional em São Paulo", escreve Feltran. E partir das prisões, a facção passou a exercer uma hegemonia nas ruas, atuando como uma espécie de "agência reguladora do crime".

Leia abaixo a entrevista por email que o sociólogo concedeu ao UOL:

UOL - Em seu livro, você afirma que o PCC é uma "fraternidade do crime" com aspectos semelhantes à maçonaria. Em sua visão, quais são as características que diferem o PCC de outras facções criminosas?

Gabriel Feltran -  O PCC não tem dono nem chefe, nem um general.

É uma sociedade secreta fraternal, com posições hierárquicas e despersonalizadas de autoridade, em geral chamadas de 'sintonias'.

Essa estrutura incorpora as funções militar e de mercado sem se confundir com elas. Fraternidades como a maçonaria nos dão uma metáfora mais simples para entender isso. O fato de um maçom ser empresário não faz da maçonaria uma empresa. O fato de ele ocupar a posição de venerável de uma loja não o autoriza a mandar em outro irmão. 

Há muitos empresários maçons, grandes e pequenos, de muitos ramos da economia, além de outros irmãos que não são empresários. Não há estrutura centralizada de mando, mas princípio de apoio mútuo entre irmãos. Ninguém divide o lucro da sua empresa com a maçonaria, mas ajuda a fortalecer a fraternidade e seus princípios de outras formas. Assim também no PCC. 

Não conheço outros grupos criminais que atuem assim; em geral, são redes étnicas, empresariais ou militares.

Por que usar metáforas como "empresa do crime" ou de uso militar é insuficiente para compreender o que é o PCC?

Há muitos empresários ligados ao PCC fazendo comércio local ou transnacional de drogas e armas, atuando também nos mercados de veículos, fazendas, hotéis, postos de gasolina, fronteiras, portos etc. 

O PCC pode realizar ações de tipo militar como resgates, execuções ou assaltos tão sofisticados quanto uma operação de guerra.   

Uma sintonia específica pode até atuar como uma empresa, sem dono, nos moldes de uma estatal. Outra pode ser focada em treinamento militar. Mas essas partes não são o todo da facção. Ninguém manda em ninguém, nem divide seus lucros com a irmandade. 

Qualquer irmão, rico ou pobre, preso ou na rua, tem os mesmos princípios a defender no mundo do crime e a mesma disciplina a considerar, ainda que saia do crime.

São fundamentalmente três. Em primeiro lugar a pujança da economia ilegal na América Latina, a partir dos anos 1980, quando os mercados de drogas e armas ganham escala global. Isso expande o crime em geral, não apenas o PCC. 

Em segundo lugar os equívocos das nossas políticas de segurança --de governos, judiciário e do debate público--, que focam na guerra contra pequenos operadores em vez da regulação desses mercados. Temos agido por instinto mais do que com inteligência nessa área. Punimos as pessoas enquanto incentivamos as facções, que ganham milhares, milhões de integrantes. Assim, saímos de 40 mil presos no início dos anos 1990 para 240 mil hoje no estado de São Paulo, com 1 milhão de ex-presidiários. Nos outros estados importou-se esse modelo, uma máquina de fazer bandido e desigualdade. No país, já são milhões de pessoas convivendo diretamente com o mundo do crime. 

Em terceiro lugar, a forma singular do PCC atuar como uma fraternidade que prioriza as alianças aos enfrentamentos entre os pobres, para fortalecer sua guerra contra "o sistema".

Por que você considera que no ano de 2002, quando Marcola obteve vitória sobre adversários Cesinha e Geleião, aconteceu uma "revolução" na história da facção?

Porque ela quebra o modelo piramidal de organização, com poder personalizado e estrutura de mando, para fortalecer a forma igualitarista da irmandade, com posições de poder despersonalizadas e sintonias independentes. Esse modo de agir é muito mais difícil de reprimir, equaciona política e economia na facção de modo totalmente diverso de outros grupos criminais, o que facilita demais a expansão do PCC nos últimos 15 anos. É uma passagem decisiva.

Você afirma que o PCC não tem uma estrutura de mando. Nesse sentido, qual é a posição ocupada por Marcola dentro da facção? Por que, em sua opinião, não existe a figura de chefe do PCC?

Existem pessoas que pela sua "caminhada" no crime, como se diz, têm o respeito dos outros bandidos. Mas elas não podem mandar em ninguém, pela própria lógica que as fez terem prestígio. Elas são referências para os outros ladrões e, ao mesmo tempo, ninguém é mais que ninguém nesse universo. Há outras formas de organizar uma coletividade que não a estrutura de mando, do poder personalizado, que nos é mais familiar. Para o bem ou para o mal, elas existem.

Mesmo que o número de membros do PCC seja reduzido em uma determinada prisão de São Paulo, as regras da facção são obedecidas pelos demais presos. O mesmo vale para pontos de drogas que não geridos por membros da facção. O que significa dizer que a "cadeia e a rua correm no ritmo do PCC"?

 

Não são regras sendo obedecidas. Para quem é da facção esse é o certo, o correto, mesmo que na vida errada. É diferente.

Uma cadeia que tem 1.300 presos pode ter apenas 50 irmãos batizados e ser considerada toda uma cadeia 'do PCC', porque os demais presos concordam, aceitam ou ao menos toleram o ritmo do PCC, a disciplina do comando um dia depois do outro dia.

Uma quebrada com 10 mil pessoas pode ser considerada "do PCC" mesmo que haja só meia dúzia de irmãos batizados ali. Muita gente que é do crime não é irmão batizado do PCC, mas, como se diz, corre com o comando. Porque considera que é mais certo assim, não porque é obrigado a isso. Queiramos ou não, é assim que tem funcionado.

Você afirma que nas favelas e nos bairros periféricos funcionam e coexistem três redes de influência muito poderosas: a do crime, a estatal e a religiosa. Como elas interagem?

Interagem no cotidiano, nas necessidades do dia a dia. Se uma pessoa tem um filho no crack, a igreja tem uma clínica de internação; é o que ela conhece, o pastor e os irmãos da igreja podem ajudar. Se um familiar teve problemas com a Justiça, um advogado conhecido pode auxiliar. Se ela teve sua moto roubada, é mais certeiro se reportar ao mundo do crime do que à polícia na tentativa de recuperá-la. 

São redes de poder que atuam ao mesmo tempo, não necessariamente uma contra a outra sempre. As três se expandem nas últimas décadas. Por isso há hoje religiosos, policiais, militantes e bandidos com influência política e negócios relevantes nas periferias.

A tese de que o PCC monopoliza o tráfico de drogas em São Paulo não se sustenta, em sua opinião. Por quê?

Por várias razões. Primeiro porque o PCC não é uma empresa. Depois porque todo o tráfico nas classes médias e elites não é regulado pela disciplina da facção. Também porque há muitos pontos de venda de droga nas periferias que não são operados por irmãos batizados no comando. Esse é um mercado enorme, transnacional, muito diversificado e difícil de monopolizar. Não quer dizer que empresários ligados ao PCC não tenham vontade de monopolizar redes de tráfico. Mas hegemonia política é uma coisa, monopólio econômico é outra.

Como definiria o impacto das ações da facção nas dimensões legais e ilegais em mercados como o de carros roubados?

 

O mercado de veículos é um ótimo exemplo da interface legal-ilegal. Há 500 mil veículos roubados no Brasil todos os anos, abastecendo os setores de autopeças, revenda, leilões, seguros e outros ramos regulares, oficiais e fortes da economia nacional. Claro que esses ramos trabalham majoritariamente com veículos legais. 

Ou seja, legal e ilegal se misturam e o dinheiro obtido com um carro roubado retorna como desenvolvimento econômico desses mercados; gera violência de um lado e emprego legal de outro. Da mesma forma, veículos são trocados nas fronteiras por armas e drogas, retroalimentando a economia ilegal que vira consumo, dinheiro, mas também novo ciclo de violência. 

Temos estudado essas interfaces com detalhe numa rede de pesquisa ampla, internacional. A presença das facções na regulação dessas economias é relevante.

O PCC assumiu o papel de institucionalizar um tipo de justiça que já ocorria nas favelas antes de sua existência. Como isso aconteceu e como a facção aplica essa justiça?

O PCC reforça e organiza uma forma de justiça popular cujos valores já existiam nas periferias muito antes dele. Uma justiça comunitária, sem mediação da lei oficial, alheia ao Estado. Antes da hegemonia do PCC em São Paulo havia muitos justiceiros, grupos de extermínio e linchamentos. Também eram formas de justiça popular.

O PCC age contra essas práticas ativamente, combate os justiceiros em cada quebrada e reivindica para si o monopólio da violência e da justiça popular. Isso é muito conhecido nas cadeias e favelas do estado de São Paulo. 

Quais são os erros cometidos pelo Estado brasileiro que permitiram que o PCC conquistasse uma hegemonia política sobre parte tão significativa da população?

As pessoas querem paz e justiça, vindas de onde vier. Os mais pobres também. Quando a gente anda por muitos anos nas favelas, isso é evidente. A justiça oficial não esclarece sequer os homicídios nas favelas. Se o fizer, será depois de sete, oito anos. Seu filho é assassinado, você sabe quem matou mas as autoridades não investigam. As facções o fazem. 

Outro exemplo: muitos jovens favelados são inempregáveis exceto no tráfico, que os acolhe e os permite ter renda. Às vezes são coisas até muito mais básicas: ter uma pasta de dente ou um sabonete na cadeia. O crime permite isso ao cara, porque nós não conseguimos ou não queremos permitir. 

Então não precisa ser de direita nem de esquerda para entender que as pessoas querem coisas básicas. Segurança é uma delas. Quando não tem de um lado, busca-se de outro. 
                                                                                                                                                           
Quais são hoje os objetivos do PCC? Considera que a facção pretende ter representantes parlamentares, por exemplo?

 

Os mesmos objetivos de sempre: progresso para os irmãos e suas famílias através do crime, do mundo do crime. Não do trabalho. Difícil de entender para nós, mas lógico para a minoria que vive esse universo. 

O resto, na visão da facção, são meios para isso. Conquistar mais mercados, mais portos, fronteiras e aeroportos, mais armas e tecnologia, mais redes internacionais para ações criminais é um meio para esse progresso. 

O PCC não é um partido político nem quer integrar nosso sistema político. Não acredita nisso, embora precise corromper agentes do Estado para favorecer suas ações. Não se admitem agentes penitenciários, policiais ou outras autoridades batizadas na facção. Isso não existe. De outro lado, bandidos no parlamento não seria uma novidade, no nosso caso.

A revista ISTO É publicou, no último dia 20 de julho de 2018, matéria intitulada "Na falta de inteligência, mais violência" . A reportagem escrita pela jornalista Luisa Purchio traz a participação do antropólogo Roberto Kant de Lima , coordenador do INCT INEAC, confira ! https://istoe.com.br/na-falta-de-inteligencia-mais-violencia/

 

Na falta de inteligência, mais violência

Estudo mostra que o número de tiroteios, homicídios e chacinas cresceu no Rio de Janeiro nos cinco meses de intervenção federal — e que a presença de soldados nas ruas não se reflete em melhoras na segurança pública

Quando o presidente Michel Temer assinou o decreto que colocou as Forças Armadas no comando das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, em fevereiro, os especialistas já alertavam que a intervenção teria poucos efeitos sobre a segurança pública. Considerava-se que a iniciativa era mais motivada para aumentar a popularidade do presidente do que para restaurar a ordem. Os números que provam essa suspeita começam, enfim, a aparecer. Exatos cinco meses depois da intervenção, se algo mudou foi para pior — e o que se vê no Rio é um cenário de guerra. As notícias de tiroteios e mortes de bandidos e PMs são praticamente diárias, fazendo com que a paz pareça cada vez mais distante.

SEM SAÍDA Homens com fuzis na Vila Cruzeiro (acima) e a UPP do Morro do Alemão (abaixo): cinco mortos em confronto com policiais (Crédito:Divulgação)

Um levantamento divulgado esta semana pelo Observatório da Intervenção, grupo da Universidade Cândido Mendes, mostra que a violência no Rio aumentou de fevereiro a maio de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior. Os tiroteios e disparos cresceram 37%. As chacinas aumentaram 80%, enquanto as mortes em chacinas dispararam: 128%. Enquanto isso, a apreensão de fuzis, metralhadoras e submetralhadoras caiu 39%. “Nossa impressão é que muitos recursos têm sido gastos em operações grandiosas que geram resultados inexpressivos”, afirma Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Observatório. “Há o risco de o Exército ficar desmoralizado. Achamos que eles deveriam investir em inteligência, investigação e reestruturação das forças policiais”, diz ela.

Divulgação

Sem metas nem cronograma

Os relatos de violência contra civis e policiais só crescem. Apenas na semana passada, diversos casos foram registrados. Moradores do Morro do Urubu, na Zona Norte do Rio, passaram a noite de segunda-feira 16 e a madrugada da terça em meio a trocas de tiros motivadas por disputas de poder entre facções criminosas. Na mesma noite, quatro pessoas foram encontradas mortas em Senador Camará, bairro na Zona Oeste do Rio. Na madrugada da quarta-feira 18, na comunidade de Cidade de Deus, um soldado do Exército foi baleado enquanto patrulhava com um grupo as imediações do local. O final de semana anterior não foi mais pacífico. No início da manhã do domingo 15, cinco homens foram mortos por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora do Alemão, na Serra da Misericórdia, que liga o Complexo do Alemão ao Complexo da Penha. No dia seguinte, mais um tiroteio impediu os moradores de saírem de suas casas.

Diante da situação atual, virou uma missão quase impossível para o interventor Walter Braga Netto transformar o Rio de Janeiro em um lugar menos violento do que encontrou. A intervenção termina no dia 31 de dezembro e tem se revelado um fracasso de planejamento. Braga Netto assumiu o comando das polícias de um estado falido por anos de corrupção e administração irresponsável de recursos públicos, mas não apresentou metas, um cronograma de ação e nem sequer uma prestação de contas. “Qual será o legado da intervenção?”, questiona Antonio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz. Para ele, o morador da favela está enterrando seus filhos sem ter nem como conhecer os protocolos de operações das Forças Armadas. “Não se sabe se o militar vai entrar na casa dele ou se seu direito de ir e vir estará assegurado”, afirma Costa.

O Exército pouco tem feito para combater as razões estruturais da insegurança na cidade. Um dos motivos que permitem o avanço da criminalidade é o aumento do poder das milícias, grupos compostos por ex-policiais e agentes do estado que vendem serviços ilegais à população, intimidada a contratá-los. A intervenção tem sido incapaz de mudar esse quadro. Pesa também a favor do aumento de homicídios e chacinas a disputa entre facções criminosas no estado, cada vez mais sangrenta. Adversário do Comando Vermelho, o PCC, que controla os presídios de São Paulo, tem reforçado sua presença no Rio de Janeiro, onde também pretende dominar o tráfico de drogas.

“Essa guerra é travada em espaços da pobreza, onde quem morre em proporções absurdas são os pobres e os soldados, o chamado ‘andar de baixo’ da população e das instituições”, diz Roberto Kant de Lima, coordenador do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos, da Universidade Federal Fluminense. “O que falta é inteligência. Enquanto só houver violência e repressão e pouca investigação criminal, mais mortes acontecerão, inclusive de pessoas inocentes — que na guerra representam apenas ‘danos colaterais’”. Sem inteligência, sobram vítimas.

Cooperação entre brasileiros e timorenses existe desde a independência do país asiático, em 2002. Resultados têm se intensificado nos últimos anos

 

Até esta quarta-feira (11), o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UnB sedia a 1ª Conferência da Associação de Estudos de Timor-Leste, seção Brasil (TLSA-BR). Com o tema Rupturas, Continuidades e Novas Sínteses, o encontro busca reunir estudantes e pesquisadores de várias áreas do conhecimento interessados em melhor compreender os processos sociais em curso em Timor-Leste, uma das nações mais jovens do mundo.

 

Além dos trabalhos científicos tradicionais, a conferência reúne apresentação de produções artísticas, fotográficas e audiovisuais, além de lançamento de livros. Cerca de 30 pesquisadores brasileiros e mais 30 internacionais participam da programação. O professor do Departamento de Antropologia (DAN) da UnB Daniel Simião é um dos organizadores do evento. Para ele, a pesquisa realizada na última década já apresenta resultados substanciais, que o evento pretende reunir.

 

Parte desse acúmulo de aprendizados é resultado de uma política de cooperação educacional empenhada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre os anos 2005 a 2015. No período de uma década, foram enviados ao Timor 50 professores brasileiros, a cada ano, para colaborar com a estruturação do sistema educacional timorense, em especial com o fortalecimento do ensino do português.

 

“Cada professor, desde que retornou, contribuiu para a difusão de aprendizados e conhecimentos sobre a cultura timorense”, destaca Simião.

 

Boa parte dos estudos sobre o país envolvem as áreas de estudos literários, linguística, ciência política, educação, história e direito. Desde 2014, a UnB envia estudantes de graduação e pós-graduação ao país para realizar pesquisas e intensificar o intercâmbio acadêmico, científico e cultural. Durante esse período, estudantes timorenses também estiveram na Universidade.

 

AFINIDADES  Pesquisadores docentes e discentes envolvidos com o Timor-Leste apresentam seus trabalhos na conferência. Nesta terça-feira (10), o aluno Miguel dos Santos Filho, do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do DAN, participa de mesa-redonda que discute questões de gênero. Desde a graduação, o pesquisador, orientado por Daniel Simião, estuda sobre estas relações em Timor e suas interfaces com as áreas de justiça e desenvolvimento.

 

Seu trabalho de conclusão de curso permitiu reconhecer o papel central das organizações não governamentais no processo de consolidação da noção de violência doméstica como um problema grave, que deveria ser tratado judicialmente. Com o trabalho, vieram dois prêmios, o primeiro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e o segundo do próprio DAN.

 

Já na nova fase de pesquisa – em desenvolvimento agora no mestrado –, a ideia é compreender comparativamente as dinâmicas de aplicação das medidas judiciais de administração dos conflitos de violência doméstica. “Enquanto lá em Timor-Leste aplica-se a Lei Contra Violência Doméstica, aqui no Brasil tem se aplicado a Lei Maria da Penha, o que já é em si um cenário interessante para se comparar, visto que os dois países têm enfrentado desafios semelhantes na aplicação das legislações”, conta Miguel.

 

O estudante detalha que ambos países enfrentam dificuldades tanto no sistema judiciário, quanto na conscientização da população acerca do tema. Para conhecer mais sobre a pesquisa da UnB e de universidades parceiras em Timor-Leste, acesse UnBCiência.

 

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