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Claúdio Salles

Claúdio Salles

Quarta, 18 Agosto 2021 16:01

PESQUISAS COM CANNABIS NA NEUROCIÊNCIA

Nessa quinta 19/08/2021, ás 19 horas, acontece mais uma edição do Maconhômetro Ciência - uma parceria entre o Cannabis Monitor e o PsicoCult. Os antropólogos Marcos Verissimo e Yuri Motta, pesquisadores associados ao INCT-InEAC, entrevistam o neurocientista Renato Filev, da UNIFESP, colocando em pauta as pesquisas mais recentes sobre maconha no campo científico. A transmissão acontecerá no perfil do Cannabis Monitor no Instagram : https://www.instagram.com/cannabismonitor/?hl=pt-br

 

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Disponibilizamos aqui o vídeo elaborado por por Iago Menezes de Souza, como material didático, para o minicurso “Unidos contra o racismo: Sociedade civil, Polícia Militar e Ministério Público de Sergipe”, destinado a membros, servidores e estagiários do MP entre outros interessados. Ele tem o objetivo de fomentar o debate sobre prevenção e combate ao racismo e elevar a conscientização sobre questões relacionadas ao tema; em especial, no campo da segurança pública. O trabalho é vinculado ao projeto: Intolerância versus respeito: análise da (in)visibilidade dos conflitos de natureza religiosa no espaço público e das estratégias de mobilização social , coordenado pela antropóloga Dra Ana Paula Mendes de Miranda e que é financiado pelo CNPQ/FAPERJ.

 

Para assistir acesse o nosso canal do INCT INEAC no youtube: https://youtu.be/DvpEs2lQyR4

 

 

 

 

Reproduzimos aqui o artigo dos antropólogos Roberto Kant de Lima e José Colaço intitulado  "Pandemia, Crise Política e Crise do Conhecimento?" publicado no Blog CIÊNCIA E MATEMÁTICA do O Globo, publicado nessa segunda-feira 2 de agosto de 2021.

Para ler acesse o link a seguir ou confira abaixo. https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/pandemia-crise-politica-e-crise-do-conhecimento.html

Pandemia, Crise Política e Crise do Conhecimento?

José Colaço e Roberto Kant de Lima

O discurso científico foi uma das primeiras coisas atacadas por autoridades políticas nacionais e importantes personalidades públicas brasileiras, desde o início da pandemia e pelas mais variadas razões. Esta atitude, como sabemos, foi designada como “negacionismo”, uma vez que ela mobiliza a negação, a não aceitação ou a rejeição de evidências basilares que até mesmo a ciência não precisa de muito esforço para tentar explicar. Como, por exemplo, que temos um novo e desconhecido vírus que se transmite pelo ar circulando por aí e precisamos nos mobilizar, de alguma forma, para conter isso.   

 

Nas etnografias que realizamos sobre conhecimentos naturalísticos, ou seja, sobre os conhecimentos que grupos sociais que estabelecem uma relação direta, biográfica e umbilical com o meio ambiente natural possuem sobre diversos os aspectos que o compõem, ficou evidente que estes conhecimentos quase nunca adquirem status de conhecimento com “C” maiúsculo para pesquisadores e/ou agentes de políticas públicas das áreas de oceanografia, biologia marinha, geologia, agronomia, etc., o que implica obstaculizar seu reconhecimento oficial, por parte do Estado, ou mesmo sua incorporação na implementação de políticas de conservação ambiental, planos de manejo de áreas protegidas etc. 

Por isso mesmo, se por um lado, tornou-se incômodo o ataque e a defesa incondicional da ciência na atual conjuntura,  por outro incomodou também a forma como a classe média esclarecida começou a se relacionar com ciência neste contexto. Com um discurso abertamente crítico ao atual Governo Federal, sobretudo no que diz respeito à condução da maior crise sanitária que já vivemos, parte considerável da grande mídia nacional iniciou uma campanha sem precedentes, a favor da ciência e tudo aquilo que dela pode ser derivado, como a vacina, os materiais de proteção, os protocolos sanitários, as pesquisas, os especialistas, as tabelas, os números, as estatísticas e por aí vai. A verdade é que não há um só dia que esta mesma mídia não exiba a fala de um especialista, ou seja, de um cientista, ou de um médico, sobre o modo através do qual a pandemia tem sido mal conduzida no Brasil. Nos expomos às elaborações de vários especialistas, como se todos eles tivessem um conhecimento uniforme sobre o vírus, o que misturou em sua maioria médicos – que têm a perspectiva do tratamento da “doença” – com aqueles que procuram estudar e conhecer o vírus – especialmente os virologistas e aqueles que têm suas especialidades na lida com as epidemias e a saúde pública. Todas essas perspectivas diferenciadas de abordagens de uma mesma pandemia produziu uma cacofonia de opiniões, aparentemente discordantes, se não se distingue de onde elas partem.

A voraz defesa da ciência, ou do pensamento científico, parece encenar uma espécie de “iluminismo tardio”, anacrônico e superficial, em plena segunda década do século XXI. Uma cruzada da racionalidade contra as trevas e o obscurantismo que, nesta edição contemporânea, ganhou o nome, acertadamente, de negacionismo. Essa narrativa do “iluminismo tardio” peca, no entanto, em não conseguir se comunicar com um considerável estrato da população que nunca acreditou ou vem sendo secular e sistematicamente excluída, por vários motivos, inclusive educacionais, sobre a eficácia das práticas científicas. Tal narrativa soa, por vezes, arrogante, e parece reificar a ciência como, ao fim e ao cabo, a única forma de razoável “estar no mundo” castigado pela pandemia. 

Tornamo-nos pesquisadores em antropologia num período em que a disciplina já tinha “ido para o divã”, em diversas ocasiões, para rever seu passado etnocentrista, racista, colonial, machista, racionalista, hiper ocidentalizado etc. Isso não significa que ela não seja isso, ou parte disso, ainda hoje. O que queremos destacar aqui, no entanto, é que há uma atitude fundamental para o exercício, não apenas da antropologia, mas da prática científica em geral. Estamos nos referindo ao ceticismo. Na antropologia ficou charmoso, pelo menos no Brasil, chamar ceticismo de “estranhamento”. Sem isso não há ciência, pois sem ceticismo não há experimentação nem especulação. 

Experimentação e especulação são características apenas do chamado “pensamento científico”? A ciência antropológica nos chamou a atenção de que todas as formas de pensamento humano partem de um mesmo princípio que combina, entre outras operações, a experimentação das coisas que habitam o mundo, sejam elas seres invisíveis aos olhos humanos, tais como micro organismos ou espíritos, e especulação sobre causas ou efeitos de fenômenos das mais diversas naturezas. Basta que lembremos de um desses textos, a “Ciência do Concreto”, capítulo do livro “O Pensamento Selvagem” de Claude Lévi-Strauss.  

Há outro componente que deveríamos destacar brevemente aqui, que escapa a isso que estamos chamando de reificação da ciência ou iluminismo tardio: a crença. A identificação com a ciência está muito mais relacionada ao ajustamento a um projeto de sociedade, com componentes morais, valorativos e práticos do que a sua real capacidade de resolver nossos problemas enquanto sociedade. “Acreditamos” na ciência e na tecnologia menos por seus resultados e mais, porque, naquilo que os sociólogos chamam (ou chamavam) de modernidade, parte considerável da sociedade sucumbiu aos chamados Sistemas Peritos, como tentou definir, já há alguns anos, Anthony Giddens. Sempre que penso em nossa relação com a ciência e com a técnica, me lembro do exemplo do avião: não precisamos conhecer como um avião funciona, não precisamos entender de engenharia aeronáutica, não precisamos saber pilotar um avião, não precisamos saber em detalhes as condições atmosféricas durante um voo para sabermos que o avião é o meio de transporte mais seguro que a humanidade já produziu e, ao mesmo tempo, não aceitar esta condição e ter “medo de avião” é considerado, geralmente, algo infantil ou irracional. 

Se a noção de Sistemas Peritos aqui grosseiramente resumida é controversa na teoria social de hoje, de todo modo podemos admitir que a ciência, além de uma expressão do pensamento, de um conjunto metódico e bem arranjado de procedimentos e de uma linguagem é, também, uma crença, e por isso recorremos a esta noção num momento em que observamos construções de narrativas midiáticas e o uso exagerado e irresponsável das redes sociais (com vinculações de informações parciais, superficiais ou mesmo, claro, as agora conhecidas Fake News). 

Assim, a reificação, ou sacralização da ciência nos soa estranha quando o pensamento científico parece surgir como o “grande salvador da humanidade”. Claro que em relação ao combate ao vírus e à pandemia, bem como para outras tantas situações, pensamos que a humanidade não criou opções muito melhores. Nos preocupa, no entanto, a brecha que, por conta da crise humanitária que atravessamos, pode ser aberta para intensificar algo que já existe e para o qual a ciência foi muitas vezes utilizada sem parcimônia: sua capacidade de produzir hierarquias entre as áreas do conhecimento, mesmo entre aquelas consideradas científicas, como os contrastes que desigualam em status as “ciências do espírito” e as “ciências da natureza”, ou definindo o que é útil ou não para ser pesquisado. 

Mas a hierarquização dos conhecimentos não reside apenas dentro da ciência. Na verdade, o que mais tem chamado atenção é a produção de hierarquias na relação entre a ciência e outras formas de pensamento consideradas “não científicas”, “não acadêmicas” ou “não formais”. Nos referimos, portanto, ao que acontece “fora” dos muros dos laboratórios ou institutos de pesquisa que, como a antropologia sobretudo tem tentado mostrar, apenas atualiza uma hierarquia que é de ordem moral e social se pensarmos, por exemplo, quem são os detentores do conhecimento científico e quem são os detentores dos conhecimentos naturalísticos ou tradicionais. No caso de sociedades desiguais como a brasileira, infelizmente, como temos acompanhado em nossas pesquisas e etnografias sobre as políticas de reconhecimento de povos ou comunidades tradicionais, ou seja, grupos indígenas, quilombolas, extrativistas, pescadores artesanais, por exemplo – detentores dos tais conhecimentos “não científicos” – a tendência tem sido além do aprofundamento das desigualdades não só no que diz respeito ao status dos conhecimentos naturalísticos que elas detêm, mas também à sua exclusão ao acesso a direitos sociais básicos, além de outras violências e silenciamentos.

O que nós, cientistas ou não, não podemos fazer, é atualizar a falsa ideia, tanto positivista como iluminista, de que há algo como uma “evolução do pensamento humano”, de uma fase mais simples e tosca, para uma fase mais elaborada e sofisticada, de modo que as outras formas de pensamento serão dirimidas, assimiladas ou simplesmente, desaparecerão, como chegou-se a afirmar em séculos passados do suposto duelo entre Ciência e Religião.   

A despeito destas elaborações, estranhamentos e críticas não temos dúvida que devemos defender a ciência contra qualquer tipo de ataque que tente difamá-la, caluniá-la ou desacreditá-la em prol de um projeto de “produção de mundo” que tem como base a aniquilação da diferença, das controvérsias e da vida. Não devemos esquecer que praticar ciência também é um ato político do qual, nós cientistas, não podemos nos esquivar. A ciência não é neutra nunca e nem é objetiva sempre. Nós cientistas, não devemos ter medo de reconhecer estas características tão marcantes em nosso ofício. Cada vez que conseguimos reconhecer isso, estaremos dando passos importantes, como a antropologia tem tentado realizar, para o reconhecimento da pluralidade do pensamento humano expresso na diversidade de modos de vida ou de se “estar no mundo”.   

José Colaço e Roberto Kant de Lima são, respectivamente, pesquisador e coordenador  do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC - www.ineac.uff.br)

 

 

O Podcast "Entre Celsos e Marias" do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro, falando de economia sob a inspiração de Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, traz  no seu episódio 32 , do dia 26 de julho de 2021, a participação da antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, pesquisadora vinculada ao INCT/INEAC . Para ouvir acesse o link abaixo:

https://anchor.fm/entre-celsos-e-marias/episodes/Episdio-32---Ana-Paula-Mendes-de-Miranda-e15200t

 

Ana Paula Mendes de Miranda é Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (1993) e Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (2002). É Professora Associada (I) do Departamento de Antropologia. É professora do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense, tendo sido Coordenadora do Programa entre os anos 2012 a 2014. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 - CA CS - Antrop., Arqueol., C. Política, Direito, Rel. Internacionais e Sociologia. Atualmente exerce os cargos de Coordenadora do Curso de Especialização em Políticas Públicas de Justiça Criminal e Segurança Pública e de Coordenadora Adjunta dos Mestrados Profissionais da área de Antropologia e Arqueologia (CAPES). Foi Coordenadora do Stricto Sensu da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da Universidade Federal Fluminense (2014-2017) e da Assessoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (AFiDE/UFF) (2017-2018). É pesquisadora do Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas e do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-INEAC) da Universidade Federal Fluminense. Integrante da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Associação Brasileira de Antropologia. Líder do diretório de pesquisa "Antropologia das burocracias e da mobilização social: saberes, práticas e interações no campo das políticas públicas". Vice-líder do diretório de pesquisa "Religião, Direito e Sociedade numa perspectiva comparada". Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com concentração em Antropologia Jurídica e Antropologia Política, atuando principalmente em pesquisas sobre os temas: formulação, implementação e avaliação de políticas públicas; gestão da informação em segurança pública; crimes, conflitos e percepções da violência; manifestações de intolerância religiosa.

 

 

VI Encontro de Pesquisa sobre Administração de Conflitos no PPGD/UVA.
 
Aberto para apresentação de resumos e trabalhos referentes a suas pesquisas. Os resumos devem ser enviados até o dia 22 de agosto de 2021 e os os trabalhos definitivos devem ser enviados até 19/09.
 
 
Devido a pandemia, o evento será realizado de forma remota, a partir do dia 5 de outubro deste ano. 
 
 
Como já é de praxe, Depois de apresentados, comentados e reformulados, os trabalhos poderão ser publicados no VI Volume de nossa Coletânea que será lançado ano de 2022
 
Mais informações confira no edital abaixo, em anexo, e faça o download do PDF.
 

A instrumentalização político partidária da cloroquina e a contestação científica pela extrema-direita no Brasil. Esse artigo da pesquisadora Thaiane de Olveira (UFF/INCT-INEAC) escrito em parceria com Simone Evangelista (UFF),  Marcelo Alves (UFF) e  Rodrigo Quinan (UFF) foi publicado em edição especial da Javnost sobre reconfiguração da esfera pública digital. "“Those on the Right Take Chloroquine”: The illiberal Instrumentalisation of Scientific Debates during the COVID-19 Pandemic in Brasil" busca compreender a maneira como um governo populista iliberal e seus partidários se referem ao discurso científico durante a pandemia, com foco nos debates das redes de extrema direita brasileiras no Twitter. Entre os principais discursos, observa-se a contestação epistêmica com viés partidário, o que leva a autoridade científica a legitimar alguns argumentos e desacreditar outros. Identificamos também a disseminação de teorias da conspiração que refletem a contestação epistêmico, além de posturas conservadoras, revivalistas e individualistas.

O artigo está disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13183222.2021.1921521

Ou faça download do PDF no link abaixo

Segue abaixo a lista dos 75 ganhadores dos livros sorteados no VIII Seminário Internacional do INCT-InEAC, realizado entre os dias 07 e 17 de junho de 2021.
O acervo do NEPEAC entrará em contato com os ganhadores por email para acertar os detalhes para a retirada dos livros.

1. MArco Antonio Mello
2. Letícia Maria de Souza
3. Francine Feldens
4. Omar José
5. Daniel Castiajo
6. Isabela Gladys Caetano
7. Michel Lobo Toledo Lima
8. Jacqueline SInhoretto
9. Monica Garelli Machado
10. Bianca dos Santos
11. Marina Carvalho
12. Marta Maria
13. Nathália Christina P.
14. Nicolle de Souza
15. Thiago Cesar Cardoso
16. Hully Guedes Falcão
17. Ana Cleia Goncalves A.
18. Sandro Cosme Benício
19. Marcela de Oliveira P.
20. Maria Luíza de Souza Alen
21. Lucas José Santos S.
22. Fernanda Nunes
23. Luciana Giannini Villela
24. JOSE COLACO NETO
25. Guilherme Santos Gomes
26. Marineia Dias
27. Fernando Dumard da G.
28. Maristela de Medeiros
29. Heitor Martins G.
30. Kênia Rodrigues Mattos
31. Mayara Ferreira
32. Natalia Rodrigues
33. Ivanilda pereira
34. Leticia de Luna Freire
35. Maurício mcar
36. FELIPE ATHAYDE LINS
37. Eduardo de Oliveira R.
38. Rebeca Gonçalves
39. Paulo César Martins
40. Soledad Gesteira
41. Luiza Barroso
42. Evelyn Lopes Pereira
43. Marden coutinho de L.
44. REINALDO NEIVA F.
45. Rebeca Sophia Lima
46. Yuri José de Paula Motta
47. Nathalia Barroso
48. Luiz Thompson Fernandes Carneiro
49. Carolina das Virgens
50. Erika Guimarães
51. Stephane Moreira
52. Fabio Costa
53. CELSO HENRIQUE LOPES DE LIMA
54. ANA PAULA DE ABREU
55. Rodrigo Raimundo
56. CAMILA BELUCCI
57. Helena Mota
58. João Vitor Câmara da S.
59. Glicia Thais Salmeron
60. Leticia Dias
61. Priscila Oliveira dos A.
62. LORENA ALBUQUERQUE
63. Antonio Claudio Ribeiro
64. Luciane Guimarães de S.
65. Gabriel Paz Soares R.
66. Lucas Ribeiro Rocha
67. Alisson Sapienza
68. Helio Henrique Waizbort
69. Ana Carolina Leitão
70. MATHEUS DE OLIVEIRA
71. Fátima Silva
72. jean lucas
73. João Pedro Klinkerfus
74. Danilo Cruz
75. Eugenia Cozzi

Lenin Pires conversa com Michel Misse sobre as complexidades e os processos sociais que levam à normalização da violência e aumento da criminalidade no Rio de Janeiro e no Brasil, ressaltando sobre as dimensões das narrativas de guerra às drogas e de fronteiras nas relações da polícia com as periferias, e como o chamado "individualismo hierárquico" do Brasil se opõe à cultura democrática idealizada constitucionalmente.

Para ouvir acesse: https://open.spotify.com/episode/4isbxJKPrHKz7gHp6r5taP?si=18eYVeT5Rs6Pb_uM90peww&dl_branch=1&nd=1

 

Quinta, 01 Julho 2021 22:07

As guerras contra a desinformação

O site do INCT/INEAC reproduz aqui o artigo "As guerras contra a desinformação". da professora e pesquisadora Thaiane de Oliveira (IACS/UFF e INCT/INEAC), publicado no Blog Ciência e Matemática do O GLOBO - https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/guerras-contra-desinformacao.html

As guerras contra a desinformação

Thaiane Moreira de Oliveira 

Sob uma agenda de guerra iminente, para combater um vírus tão letal quanto o SARS-COV, a chamada pandemia informacional deu mais visibilidade à urgência de se enfrentar a desinformação e as fake news, sobretudo relacionadas à ciência. O que é essa agenda de guerra e o que esse imaginário bélico-informacional representa para um momento no qual o sistema democrático está fragilizado devido a uma crise política e institucional que assola o país?

 

A caçada pela intencionalidade e a responsabilização das mídias sociais

Desde 2018, dezenas de projetos de lei têm tramitado para enfrentar esse inimigo oculto, que é apresentado como um organismo tão perigoso à democracia que se justifica a suspensão de qualquer racionalidade em nome de uma guerra contra a desinformação. Em sua maioria, estes inúmeros projetos propõem a mudança do Marco Civil da Internet, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. De pensamento crítico sobre a informação através da educação e transparência, proposto pela deputada Joice Hasselmann (PSL) a projetos mais radicais que enquadram a produção e disseminação da informação a crime contra a segurança nacional, como o do deputado Francisco Floriano (DEM-RJ), o que tramita tem como um entendimento básico de que a desinformação é uma informação intencionalmente produzida para enganar. No entanto, em uma sociedade tradicionalmente inquisitorial como a nossa, como “perseguir” a intencionalidade sem ferir direitos e preceitos democráticos?

No Senado, o Projeto de Lei das Fake News (PL 2.630/2020) prevê multas e penalidades criminais para quem divulga e compartilha notícias falsas e pressiona plataformas digitais a adotar medidas mais rígidas contra ataques cibernéticos, desinformação, notícias falsas e incitação ao ódio. Já no Supremo Tribunal Federal (STF), há uma pressão – e consequentemente a responsabilização – sobre as plataformas digitais para a retirada de conteúdos potencialmente enganosos e retirada de perfis que divulgam notícias falsas. Em maio de 2021, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto o PL 6764/02, que revoga a Lei de Segurança Nacional e passa a considerar crime o disparo em massa de mensagens consideradas como “fake news”, por aplicativos como o WhatsApp, durante o período eleitoral. Quem for responsabilizado pela prática poderá ficar em reclusão por um a cinco anos, além de ter que pagar uma multa. O uso desmedido da Lei de Segurança Nacional, que tem crescido nos últimos dois anos, tem provocado intenso debate, sobretudo em função da instrumentalização recorrente a ela para decisões jurídicas envolvendo o direito à informação e a intimidação contra vozes críticas ao governo, como o ocorrido contra o professor de ensino médio, Arquidones Bittes, em Goiás, em maio de 2021.

Em meio a intensas disputas e desdobramentos em torno da PL das Fake News, e sob um importante debate sobre o papel das plataformas de redes sociais na disseminação de desinformação, observamos uma transferência da responsabilidade do estado para regular os meios de comunicação, entre eles os digitais, para empresas de mídias sociais. O texto aprovado da PL das Fake News, por exemplo, obriga as plataformas a excluírem as contas falsas, criadas ou usadas com o propósito de assumir ou simular identidade de terceiros para enganar o público. Ao passo que essa obrigação é dada, atribui-se também a essas plataformas a possibilidade de ter autonomia no processo de decisão sobre a retirada de conteúdos e de perfis que elas consideram danosos ou criminosos. O texto também prevê que dados de mensagens em aplicativos de mensagens instantâneas, como Whatsapp e Telegram, sejam armazenados por até 90 dias, podendo violar a privacidade do usuário. Dando esta autonomia a estas empresas, quem vai regular e auditar o conteúdo retirado por elas e garantir a privacidade do usuário?

Legitimamos velhas e novas autoridades epistêmicas

A suspensão da racionalidade em nome de uma guerra híbrida talvez seja a primeira e mais imediata tirania neste campo de disputa em torno da desinformação. Mas há outras. A segunda tirania é a legitimação de certas autoridades como promotoras da verdade, que se apresentam como neutras, transparentes, dignas de confiança. De um lado, o jornalismo se apresenta como uma autoridade com compromisso com a verdade, ignorando toda uma crítica acadêmica e de parte da população sobre enquadramentos e silenciamentos na cobertura de acontecimentos históricos, como as manifestações de 29 de maio contra o governo federal. Inúmeros editoriais e artigos de opinião têm sido publicados, exaltando a importância cívica da profissão, sobretudo em um contexto de infodemia, posicionando seus profissionais como figuras essenciais na linha de frente contra a desinformação. Esta reafirmação de autoridade da verdade feita pelo jornalismo é uma forma de autopreservação em um momento de crise epistêmica, em que instituições que produzem ou disseminam conhecimento e informação têm sido contestadas e atacadas em um contexto de ascensão de mitos populistas, que em nome do desejo do “povo” defendem projetos individuais e autoritários.

Uma das ferramentas para garantir a sua a pretensa objetividade, neutralidade e imparcialidade, agências de checagem de fatos são apoiadas pelas próprias empresas jornalísticas que segmentam a cauda longa do jornalismo através de mecanismos classificatórios sobre o que é verdade ou mentira. Agências de checagem de fatos se legitimam como uma nova autoridade, como novos árbitros da verdade, definindo o debate público do que eles consideram o que é fato, meio fato ou inverdade. Nesse ecossistema da verdade, fundações internacionais e a mídia tradicional se autoproclamam como garantidora do selo de qualidade do que eles consideram dignos de sua credibilidade.

Legitimar o jornalismo e suas ferramentas de classificação da verdade, é fechar os olhos para uma atuação da mídia que continua a insistir que vivemos em um mundo de igual equivalência entre dois polos extremos, numa “escolha muito difícil” entre a morte e a negação de princípios democráticos de um lado, e transferência de renda, saúde e educação pública de outro. É retirar do debate público toda uma crítica à mídia e silenciar décadas de pensamento científico do campo da comunicação em nome de ideais de neutralidade, imparcialidade e objetividade. Ideais que na prática estão restritos apenas aos manuais de jornalismo, empoeirados nas prateleiras de quem ainda preza por seu emprego, em um país em que barcaças de demissão e recorde de desemprego nessa área são uma realidade.

Aos poucos, sob a urgência de combater um inimigo invisível, práticas punitivistas vão se consolidando, abrindo as portas para que medidas autoritárias e antidemocráticas ganhem espaço no campo político e jurídico. Sob a mesma agenda, autoridades epistêmicas se consolidam enquanto buscamos culpar o “outro”, que não é jornalista, o “outro” que não é democrático, o “outro” que não é conterrâneo, (especialmente os “russos”) como causa da ruptura de uma ordem informacional. Lenio Streck, em um artigo de opinião no Conjur, pergunta: há como conter o gozo das redes sem ser tirânico? Esta pergunta, tão atual e necessária, talvez seja um dos grandes dilemas que precisemos encarar quando o que se está em pauta é um imaginário bélico-informacional de uma guerra híbrida, que suspende qualquer racionalidade e pode ameaçar a democracia, trazendo para o debate leis retrógradas que enquadram vozes críticas como ameaça à segurança nacional e ao terrorismo informacional.

Thaiane Moreira de Oliveira é pesquisadora do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT-InEAC – www.ineac.uff.br)

 

 

 

Nota em homenagem a Gláucio Ary Dillon Soares: uma perda, um legado

 

 

Mais uma triste notícia nesse contexto atual já tão difícil.   

Infelizmente, o professor e sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares faleceu nesta segunda-feira (14/06), aos 86 anos. Internado desde 29 de maio, por muitos fatores que fragilizavam sua saúde. Sempre muito forte, lutava contra um câncer agressivo diagnosticado há pouco mais de 25 anos. Em 2018 sofreu um AVC. E foi acometido pela COVID-19 há pouco tempo, fato que o levou para internação.

Foi um grande professor e motivador não só na minha caminhada acadêmica, mas de vários outros colegas do campo acadêmico, incluindo as dezenas de seus orientandos, colegas de profissão e leitores dos seus trabalhos, no Brasil e no exterior. Nossa convivência, para além dos muros da universidade, se deu com muitos encontros em sua casa e no “bar escritório” - apelido que dávamos a uma pizzaria que ficava quase ao lado da instituição que ele lecionava, o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) - sempre fazendo da sua orientação um encontro quase familiar.

Tive a honra de ser o último orientando dele, no mestrado e no doutorado em sociologia no IESP/UERJ. A análise de fluxo de crimes, dialogando a sociologia e antropologia, foi um grande ensino e estímulo dele. Algo bem incomum e ímpar       que gerou uma parceria entre Gláucio, eu e o professor, e antropólogo, Roberto Kant de Lima, da Universidade Federal Fluminense, me proporcionando um diálogo interdisciplinar e interinstitucional. Isso foi de suma importância para mim, para descontruir a normatividade e ensino doutrinário da minha formação original em Direito, permitindo-me enxergar o campo jurídico como um fenômeno social.

E dessa parceria foi possível produzir trabalhos empíricos que permitiram – e permitem – analisar o funcionamento das instituições policiais e judiciais na administração de conflitos de crimes, problematizando a forma de categorização e organização dos registros institucionais em forma de dados informatizados, a exemplo do que faz o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para fins de construção de seus relatórios anuais intitulados “Relatório Justiça em Números”. Tais registros explicitam, por exemplo, uma lógica corporativa de gestão dos processos judiciais, construindo-se números publicizados de interesse puramente interno, corporativo. Seus índices, tais como taxas de congestionamento processual, indicadores de produtividade dos magistrados e indicadores de produtividade dos servidores da área judiciária ainda possuem poucos detalhes de diagnóstico, avaliando apenas o movimento quantitativo de processos judiciais, o número de funcionários e orçamento dos fóruns e tribunais em cada Estado, por ano, sem considerar os tipos de demanda, as formas de administração dos conflitos, o perfil das partes conflitantes e demais possibilidades de registro de micro dados. As metas corporativas quantitativas se sobressaem sobre todos os outros aspectos.

As contribuições dessa nossa parceria foram muito profícuas nesse sentido, em analisar como os registros - e os não registros, percebidos unicamente por meio de pesquisa etnográfica - quantificados pelas instituições judiciais podem revelar mais sobre suas próprias práticas internas do que sobre os fatos sociais os quais essas instituições pretendem classificar, codificar e quantificar. Tais questões ainda são fortes empecilhos para a elaboração de categorias, teorias e conceitos próprios para o contexto brasileiro. Ainda pensamos “o Brasil a partir de conceitos e categorias criados para descrever fenômenos de países industriais; não pensamos a partir de conceitos elaborados para descrever fenômenos do Brasil”. “A isso eu chamo de colonialismo teórico”, desdobrando-se em um verdadeiro “calcanhar metodológico” entre nós, como já escreveu e sempre alertava Gláucio.

É difícil enumerar e resumir todas as contribuições de Gláucio Soares para a ciência social brasileira. Seus inúmeros escritos e pesquisas perpassam desde o papel das elites nas transições democráticas, a análise das determinantes dos suicídios, até a análise de fluxo de homicídios dolosos no Brasil e em perspectiva comparada, dentre várias outras análises na Criminologia e na Sociologia Política, atuando principalmente nos temas da violência, homicídios, democracia e regimes ditatoriais.

Há incontáveis publicações paradigmáticas - em artigos, livros publicados e organizados, inclusive com importantes parcerias em coautoria - tanto para a sociologia quanto para a ciência política brasileira, como, por exemplo: “O charme discreto do socialismo moreno”; “Dois Lulas: a geografia eleitoral da reeleição”; “21 anos de autoritarismo”; “A democracia interrompida”; “O calcanhar metodológico da ciência política no Brasil”; “A criminologia e as desventura do jovem dado”; “As vítimas ocultas da violência no Rio de Janeiro”; entre muitos outros.

Particularmente, o livro “Não Matarás: desenvolvimento, desigualdade e homicídios” foi marcante para mim. Nessa obra, Gláucio reúne suas pesquisas e reflexões realizadas ao longo de 40 anos de trajetória acadêmica sobre análise de fluxo e determinantes das mortes violentas. A influência dessa publicação é notória em minha caminhada e produção acadêmica em que analisei o fluxo dos acordos ao longo das etapas da conciliação, transação penal e Audiência de Instrução e Julgamento no Juizado Especial Criminal, em minha dissertação de mestrado que defendi em 2014 (com publicação posterior em livro, em 2017); e na análise de fluxo e das determinantes para a investigação de homicídios dolosos ao longo das etapas do registro de ocorrência policial, da instauração do inquérito policial, da denúncia do Ministério Público, da primeira e da segunda fase do Tribunal do Júri, na minha tese de doutorado, defendida em 2018.   

Para um pouco além da vida acadêmica, vale mencionar que Gláucio mantinha um blog, há muitos anos, como um diário público de suas inquietações, lutas, conquistas, reflexões e percalços não só contra o câncer como também perante adversidades do cotidiano, sempre com a reflexão de um exímio cientista social, mas com a sensibilidade de escrita de um poeta, com uma escrita lírica e compreensível a todos. A última atualização do blog foi em 23 de junho de 2020. É emocionante, revigorante e vale a pena ser lido: https://vivaavida.wordpress.com . Impressiona a quantidade de visualizações que há nesse blog e como pessoas foram impactadas positivamente por esses escritos.

Teremos que seguir em frente com mais esta perda, neste momento duro. Perdemos um grande mestre, cientista social e pessoa querida. Mas com um grande legado para muitos.

 

 

Michel Lobo Toledo Lima.

Sociólogo. Doutor e mestre em sociologia pelo IESP/UERJ. Pesquisador do INCT-InEAC. Professor visitante e pesquisador de pós-doutorado FAPERJ nota 10 no PPGD/UVA.

 

 

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