Faleceu na noite de 19 de maio de 2025, em Niterói, aos 80 anos, o professor Roberto Kant de Lima, um dos mais respeitados antropólogos brasileiros da contemporaneidade. Sua partida representa uma perda irreparável para a ciência, para a universidade pública, para os estudos sobre temas como justiça, segurança pública e direitos humanos, assim como para todas as pessoas que tiveram o privilégio de aprender com ele, caminhar ao seu lado e partilhar de sua generosidade intelectual e humana.
Roberto Kant é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense (UFF), membro da Academia Brasileira de Ciências, Cientista de Nosso Estado pela FAPERJ e pesquisador de produtividade 1A do CNPq. Coordenador do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração de Conflitos — o INCT-InEAC -, ele foi um mestre no sentido mais pleno da palavra: um pensador rigoroso, um formador de gerações e um defensor intransigente do conhecimento comprometido com uma sociedade mais igualitária e justa.
Graduado em Direito, mestre em Antropologia Social pela UFRJ e doutor em Antropologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, sua trajetória foi marcada por uma rara combinação de erudição, curiosidade e compromisso ético. Pioneiro no Brasil na análise antropológica da Polícia e do sistema de justiça, Roberto Kant soube olhar para os tribunais, as delegacias, os rituais jurídicos e as práticas institucionais não como abstrações, mas como expressões culturais, carregadas de sentidos, conflitos e ambiguidades. Também se dedicou aos estudos relacionados à pesca artesanal mantendo com os pescadores de Itaipu, em Niterói, fortes laços afetivos e de solidariedade que permanecem até a presente data.
Autor de obras fundamentais como A Polícia da Cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos e A Antropologia da Academia: quando os índios somos nós, Kant explorou, com coragem e delicadeza, as intrincadas tramas entre cultura, poder e legalidade no cotidiano brasileiro. Mais do que interpretar o mundo, ajudou a desvelá-lo e, ao fazê-lo, inspirou muitos a transformá-lo.
Com sua escuta atenta, sua escrita afiada e sua ironia afetuosa — uma marca de suas intervenções críticas, sempre carregadas de humor sutil e inteligência generosa — deixa uma marca indelével na antropologia, nas ciências sociais e nas instituições por onde passou. Mas, acima de tudo, deixa saudades profundas em quem teve a sorte de estar ao seu lado.
À família, amigos, colegas e ex-alunos, nossa solidariedade e nosso abraço fraterno.
Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração de Conflitos – INCT-InEAC
Universidade Federal Fluminense – UFF