Os professores e pesquisadores associados ao Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC), e demais membros da comunidade universitária vêm, por meio desta nota, manifestar irrestrito apoio e solidariedade à professora doutora Jacqueline de Oliveira Muniz, que tem sido alvo de discursos de ódio, ataques violentos, misóginos e difamatórios nas redes sociais, que incluem ameaças de agressão física, em razão de suas análises públicas sobre a recente operação policial no Complexo do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 28 de outubro de 2025, que foi considerada a ação mais letal da história do estado.
As reações hostis e covardes contra a professora não apenas atentam contra sua integridade pessoal e profissional, mas também revelam a escalada do ódio e tentativas de silenciamento no que se refere ao debate público qualificado sobre políticas de segurança, uso da força e direitos humanos. Esses ataques se inscrevem em um contexto preocupante de radicalização autoritária e cerceamento da crítica e do pensamento científico, em que vozes comprometidas com o Estado Democrático de Direito passam a ser perseguidas por exercerem o direito à livre expressão e à produção de conhecimento público.
A trajetória da professora Jacqueline Muniz é amplamente reconhecida pela comunidade acadêmica e por profissionais da segurança pública. Com experiência de mais de vinte anos de pesquisa, atuação e docência, no Brasil e na América Latina, sua contribuição é pautada na defesa de uma abordagem de segurança pública transparente e orientada para a proteção da vida de todas as pessoas. Ao longo de sua carreira, atuou na formação de agentes, gestores e estudantes, promovendo o diálogo entre universidade, Estado e sociedade civil, supervisionando pesquisas de graduação, mestrado e doutorado. Os profissionais por ela formados hoje atuam em universidades, organizações da sociedade civil e instituições públicas, contribuindo para a presença de uma abordagem crítica e interdisciplinar com foco nos direitos humanos no debate sobre segurança. É autora de artigos, livros e relatórios técnicos relacionados a políticas de segurança, práticas policiais, governança e gestão pública, que são referenciados no debate nacional sobre o tema. Sua produção evidencia a articulação entre teoria e prática, destacando o papel da universidade na construção de diagnósticos e alternativas para o campo da segurança pública.
A professora Jacqueline Muniz também reúne ampla experiência em gestão pública e formulação de políticas de segurança, tendo atuado em diferentes esferas de governo. Foi coordenadora de Segurança, Justiça e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro, assessora da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e consultora internacional de programas de modernização policial e de gestão da informação. Em todas essas funções, pautou-se pela defesa de uma segurança pública orientada por evidências, pelo controle social das instituições policiais e pelo respeito aos direitos humanos, contribuindo para o desenvolvimento de políticas inovadoras voltadas à transparência, à prevenção da violência e ao fortalecimento da cidadania.
Os ataques dirigidos à professora expressam misoginia e autoritarismo, típicos de uma cultura política que tenta silenciar mulheres que ocupam o espaço público com competência, autonomia e coragem. São agressões que buscam intimidar não apenas uma pesquisadora, mas o próprio princípio de que a segurança pública deve ser pensada de forma democrática e responsável.
Rejeitamos, com absoluta firmeza, as tentativas de desqualificar a professora Jacqueline Muniz sob o argumento de que não teria autoridade para tratar de segurança por nunca ter empunhado uma arma. Essa ideia é falaciosa e revela uma postura autoritária que tenta silenciar o conhecimento crítico produzido pela universidade. A experiência da professora, construída em décadas de pesquisa, gestão pública e diálogo com profissionais da área, é prova de sua competência e compromisso com uma segurança voltada à proteção da vida e ao fortalecimento da democracia..
Reafirmamos, assim, nossa solidariedade à professora Jacqueline Muniz e nosso repúdio a toda forma de violência e intimidação. Reiteramos o compromisso do InEAC com a liberdade acadêmica, a produção de conhecimento crítico e a defesa da vida, especialmente em um momento em que a banalização da violência ameaça as bases do convívio civilizado.
Defender Jacqueline Muniz é defender o direito de pensar, ensinar e pesquisar em liberdade. É também afirmar que não há segurança possível sem democracia, justiça social e respeito às diferenças.
Subscrevem:
ADUFF – Associação de Docentes da Universidade Federal Fluminense
Andréa Damacena Martins, pesquisadora colaboradora NIM, Universidade Radboud, Holanda
Associação de Docentes da UFRJ (AdUFRJ)
Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB
Cátedra Patrícia Acioli- UFRJ
Centro de Estudios Legales y Sociales (CELS) – Argentina
Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (CRISP/UFMG)
Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESEC
Centro de Estudos sobre Desigualdades Globais – UFF
Centro de Pesquisas Jurídicas e de Estratégias Públicas e Privadas Antidiscriminação (CEPEJE Antidiscriminação/UFS)
Comissão de Direitos Humanos da ABA
Comissão de Direitos Humanos da ANPOCS
Comitê de Pesquisa em Sociologia da Violência da SBS
Departamento de Justiça Penal e Segurança Pública do IBCCRIM
Diretório Acadêmico Roberto Kant de Lima (DARK)
Equipo de investigación “Poder Policial, Violencias y Activismos”, PAPyJ, ICA-UBA.
Equipo de Investigación “Tribunales, juicios y DD.HH.”. PAPyJ, ICA-UBA
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)
Gentil Corazza – UFRGS
Grefac – Grupo de Estudos sobre a Família Contemporânea (UFRJ/UERJ)
Grupo de Estudios Sociales en Administración de Conflictos, Justicia y Derechos Humanos (JADE/ICSOH/UNSa)
Grupo de Estudos, Pesquisa e Ação em Feminismos, Gênero e Tradução (GRETAS/USP)
Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos (Gevac), UFSCar
Grupo de Pesquisa “Cultura, Cotidiano e Sociabilidades na contemporaneidade” (GRECCOS/UFS)
Grupo de Pesquisa “Observatório do Patrimônio Religioso” (UNIRIO)
Grupo de Pesquisa Corpos Cativos – PPG Política Social e Direitos Humanos UCPEL – RS
Grupo de pesquisa DISTÚRBIO (UERJ/UFRRJ)
Grupo de pesquisa Ginga-UFF
Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Segurança e Administração da Justiça Penal, PUC-RS
Grupo de Pesquisa em Segurança, Violência e Justiça – SEVIJU/UFABC
Grupo de Pesquisa em Violência e Cidadania, UFRGS
Grupo de Pesquisa Periferias Afetos e Economias das Simbolizações (GRUPPAES) – UFAL
Grupo de Pesquisa sobre Cidadania, Controle da Ação Policial e Enfrentamento ao Racismo (CAPÔ/UFF)
Grupo de Pesquisas: Filologia, línguas clássicas e línguas formadoras da cultura nacional (FILIC/ UFF)
Grupo de Pesquisa Sociabilidades Urbanas, Espaço Público e Mediação de conflitos – GPSEM/UFRJ
Grupo de Etnografias sobre Antropologia do Direito e das Moralidade, GEPADIM, UFF
Grupo Interdisciplinar de Trabalho e Estudos Criminais-Penitenciários (GITEP), da Universidade Católica de Pelotas (UCPel)
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia – ICHF, UFF
Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos, UFF
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Violência, Poder e Segurança Pública (INViPS)
Ivan Valente (Deputado Federal/PSOL-SP)
Laboratorio de Estudos em Políticas Públicas, Trabalho e Sociabilidade (LEPPTraS/UFRJ)
Laboratório de Análise da Cultura e Sociedade – CEFET-RJ Uned Nova Iguaçu
Laboratório de Análise da Violência (LAV) – UERJ
Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro), ICHF-UFF
Laboratório de Estudos da Cidade – Conflitos, Imagens e Narrativas (LECCIM/ IFRJ)
Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)
Laboratório de Estudos sobre Territorialidades, conflitos e juventudes (JUVES/UnB)
Laboratório Etnográfico de Estudos Tecnológicos e Digitais (LETEC – USP)
Laboratório de Pesquisa em Criminalidade, Ilegalismos e Violência (LabCRIV), UFRN
Laboratório de Análise da Cultura e Sociedade – CEFET-RJ Uned Nova Iguaçu
Laboratório Interdisciplinar de Extensão e Pesquisa Social (LIEPS/IFRJ)
Laboratório Social de Administração da Justiça, Conflitos e Tecnologia, UCPel
Laboratório Sobre Estudos de Cidadania, Administração de Conflitos e Justiça – CAJU, UnB
Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza – ETTERN/IPPUR/UFRJ
Lélia: Observatório de Gênero, Raça e Interseccionalidades na Mídia (ECA/USP)
Lilia Moritz Schwarcz. Professora USP
Marcelle Gome Figueira – IDP
Núcleo de Estudios en Antropología Jurídica (NEAJ-UNICEN)
Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), UFRJ
Núcleo de Estudos da Modernidade – NEMO/InEAC/UFF
Núcleo de Estudos da Violência e Segurança NEVIS/Ceam/unb
Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença (NUMAS), Universidade de São Paulo
Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Criminalidade e Violência (Necrivi/UFG)
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais (NEGRAM/IPPUR/UFRJ)
Núcleo de Estudos em Segurança Pública / Fundação João Pinheiro (NESP/FJP)
Núcleo de Estudos Interseccionais (NUDEIN/UFF)
Núcleo de Pesquisa em Processos Institucionais de Administração de Conflitos (NUPIAC), UVA
Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas – NUFEP, UFF
Observatório de Saúde Mental, Justiça e Direitos Humanos da UFF
Observatório Fluminense _ UFRRJ
Programa de Antropología Política y Jurídica (PAPyJ) do ICA-UBA
Programa de Pós-Graduação em Antropologia – PPGA, UFF
Programa de Pós-Graduação em Justiça Administrativa da UFF
Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança, UFF
Rede de Estudos, Pesquisa, Extensão e Ensino sobre Serviço Social e Educação – REPENSSE/UFRJ

