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Quinta, 23 Março 2023 23:24

Lançamento de Malandros, marginais e vagabundos – A acumulação social da violência no Rio de Janeiro

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Na próxima quinta-feira, 30 de março de 2023, acontece na livraria Folha Seca, centro do Rio de Janeiro, o lançamento de Malandros, marginais e vagabundos – A acumulação social da violência no Rio de Janeiro; novo livro do sociólogo Michel Misse (UFRJ), pesquisador vinculado ao INCT/INEAC, editado pela Lamparina/FAPERJ 2023 . O lançamento será ás 17:30h na livraria Folha Seca que fica na rua do Ouvidor 37, centro do Rio de Janeiro. Outras informações confira no cartaz abaixo. 
 
“O fantasma das classes perigosas e o que já foi chamado, há algum tempo e com propriedade, de 'criminalização da marginalidade'(Coelho, 1978), é uma dessas imagens contraditórias que se tornam interstício entre as crenças e seus limites. Qualquer um sempre soube, no Rio de Janeiro, que a maior parte dos moradores de favelas e outras áreas urbanas pobres da cidade não tem propensão ao crime e nem apoia bandidos. No entanto, e ainda assim, jamais deixaram de vincular o banditismo sofrido em sua experiência social à pobreza urbana concentrada nessas áreas, à marginalização econômica de grande parte de sua população ao desemprego ou aos baixos salários. Convivem de certa forma harmoniosamente, duas imagens contraditórias no núcleo do fantasma, a que colide a representação ' pobres porém honestos' (o porém é evidentemente denotativo de uma expectativa negativa de 'não honestidade' potencial em relação à pobreza, como na fórmula 'preto'[porém] de alma branca'), com a representação igualmente denotativa de alguém que 'ficou rico, mas honestamente'. A honestidade, nessas imagens, parece ao mesmo tempo moralmente autônoma em relação à classe social e, paradoxalmente, dependente dela. Pode-se ser pobre e ser honesto, pode-se ficar rico honestamente, mas ao mesmo tempo pobreza e riqueza podem afetar a honestidade, produzir arranhões nos valores e na autonomia moral do código do que seja uma conduta economicamente 'honesta'. O que essas imagens reiteram são os limites normalizantes da ação aquisitiva numa sociedade cujas metas culturais centram-se (ou dependem significativamente) desse tipo de ação.
O que essas imagens, no entanto, confirmam é a existência de uma tensão, ou uma contradição constitutiva, entre valores morais e valores materiais ou econômicos, ou mais rigorosamente, entre normalização e interesses, uma tensão muito antiga, que na sociedade moderna tornou-se abrangente, com a predominância do princípio do mercado e do individualismo utilitarista sobre o princípio hierárquico da comunidade moral, afetiva, tradicional ou carismática. Como praticamente observam todos os autores clássicos, o grande perigo da modernidade sempre parece ter sido o seu próprio fundamente, o seu valor, e sua contensão moral igualitária sempre foi percebida como o grande desafio, inclusive, (se não principalmente) nas lutas de classes trabalhadoras para arrancar do Estado proteção contra os excessos do capitalismo e do princípio do mercado.”
Michel Misse – Malandros, marginais e vagabundos – A acumulação social da violência no Rio de Janeiro – Lamparina/FAPERJ 2023
Pag. 183/4
Lançamento Livraria Folha Seca - 30/03/2023
 
Ler 914 vezes Última modificação em Quinta, 23 Março 2023 23:59
Claúdio Salles

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